Em entrevista aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, a respeito da busca do Brasil por um possível assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), os professores de relações internacionais Alexandre Pires (Ibmec) e Emmanuel Nunes de Oliveira (Universidade Mackenzie) avaliaram a posição brasileira no confronto entre Israel e o grupo Hamas, deflagrado no último sábado (7), quando o movimento palestino atacou o território israelense, levando a um conflito que já matou mais de 2 mil pessoas de ambos os lados.
Ambos acreditam que haverá pressão por parte dos membros do conselho para que a presidência se posicione em relação a um ou outro lado do conflito. Para Pires, o país terá que se reposicionar em relação ao Hamas, pois embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha condenado os ataques do grupo, o governo brasileiro não o classifica como terrorista.
"O Brasil era um dos grandes apoiadores do que nós chamamos de solução de dois Estados. E, com esse conflito, essa solução foi pelos ares. Ou seja, é muito improvável que ela volte a ser vista como algo razoável. O Brasil agora tem que se reposicionar. Ele reconhecia a validade dessas organizações e grupos palestinos e, agora, vai ter que rever isso", opinou.
Já Oliveira acredita que o governo brasileiro deve se manter neutro nessa questão para não perder apoio no conselho e dificultar sua gestão:
"O Brasil tem tradicionalmente a orientação de buscar um entendimento não violento na região, buscar mediar o conflito entre esses dois territórios com a diplomacia. A tendência é que o Brasil mantenha essa posição. Não tome uma posição pró-Palestina muito clara, nem pró-Israel, justamente para conseguir conduzir os trabalhos dentro do conselho", disse.
De acordo com os entrevistados, o momento para assumir a presidência não foi o mais propício para o Brasil, mas a crise entre Israel e Palestina pode ser uma oportunidade de aumento de influência brasileira dentro do sistema ONU.
"Se tiver a capacidade de se mostrar um ator viável, que consiga estabelecer o diálogo no sistema internacional, o Brasil tende a sair fortalecido como país", argumentou Oliveira.
Na avaliação de Pires, a presidência do Conselho de Segurança e o próprio conselho não têm efetividade para lidar com questões pontuais e de grande escala. Logo, a ação do Brasil como presidente pode servir para vocalizar ataques, condenar a solução violenta por meio armado contra civis e tentar abrir um canal de diálogo com o grupo Hamas.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Viera, comandará a reunião de amanhã, que será a segunda do Conselho de Segurança da ONU para debater o conflito. A primeira ocorreu no fim de semana passado, e o Brasil foi representado pelo seu embaixador na ONU, Sérgio Danese. Um dos focos do Brasil como presidente temporário do conselho é a construção de um corredor humanitário que ligue Gaza ao Egito, que serviria para a saída de pessoas da região e o fluxo de mantimentos e remédios.