Panorama internacional

Brasil na presidência do Conselho de Segurança da ONU: neutralidade ou reposicionamento?

Atual presidente do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil convocou para amanhã (13) uma reunião do colegiado para tratar da crise humanitária em Gaza. No encontro, há expectativa sobre um possível posicionamento do país em relação ao conflito entre o grupo Hamas e Israel, segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Sputnik
Em entrevista aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, a respeito da busca do Brasil por um possível assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), os professores de relações internacionais Alexandre Pires (Ibmec) e Emmanuel Nunes de Oliveira (Universidade Mackenzie) avaliaram a posição brasileira no confronto entre Israel e o grupo Hamas, deflagrado no último sábado (7), quando o movimento palestino atacou o território israelense, levando a um conflito que já matou mais de 2 mil pessoas de ambos os lados.
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Cadeira permanente que é bom… nada!
Ambos acreditam que haverá pressão por parte dos membros do conselho para que a presidência se posicione em relação a um ou outro lado do conflito. Para Pires, o país terá que se reposicionar em relação ao Hamas, pois embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha condenado os ataques do grupo, o governo brasileiro não o classifica como terrorista.

"O Brasil era um dos grandes apoiadores do que nós chamamos de solução de dois Estados. E, com esse conflito, essa solução foi pelos ares. Ou seja, é muito improvável que ela volte a ser vista como algo razoável. O Brasil agora tem que se reposicionar. Ele reconhecia a validade dessas organizações e grupos palestinos e, agora, vai ter que rever isso", opinou.

Já Oliveira acredita que o governo brasileiro deve se manter neutro nessa questão para não perder apoio no conselho e dificultar sua gestão:
"O Brasil tem tradicionalmente a orientação de buscar um entendimento não violento na região, buscar mediar o conflito entre esses dois territórios com a diplomacia. A tendência é que o Brasil mantenha essa posição. Não tome uma posição pró-Palestina muito clara, nem pró-Israel, justamente para conseguir conduzir os trabalhos dentro do conselho", disse.
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De acordo com os entrevistados, o momento para assumir a presidência não foi o mais propício para o Brasil, mas a crise entre Israel e Palestina pode ser uma oportunidade de aumento de influência brasileira dentro do sistema ONU.
"Se tiver a capacidade de se mostrar um ator viável, que consiga estabelecer o diálogo no sistema internacional, o Brasil tende a sair fortalecido como país", argumentou Oliveira.
Na avaliação de Pires, a presidência do Conselho de Segurança e o próprio conselho não têm efetividade para lidar com questões pontuais e de grande escala. Logo, a ação do Brasil como presidente pode servir para vocalizar ataques, condenar a solução violenta por meio armado contra civis e tentar abrir um canal de diálogo com o grupo Hamas.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Viera, comandará a reunião de amanhã, que será a segunda do Conselho de Segurança da ONU para debater o conflito. A primeira ocorreu no fim de semana passado, e o Brasil foi representado pelo seu embaixador na ONU, Sérgio Danese. Um dos focos do Brasil como presidente temporário do conselho é a construção de um corredor humanitário que ligue Gaza ao Egito, que serviria para a saída de pessoas da região e o fluxo de mantimentos e remédios.
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