Dada a dificuldade de encontrar novos campos de petróleo no Brasil, a Petrobras busca ampliar seu desenvolvimento nos países vizinhos e considera retornar à Venezuela. Mas, para isso, segundo o diretor-executivo da empresa, Jean Paul Prates, a estatal brasileira tem analisado o caso da empresa norte-americana Chevron, que retomou as suas operações no país caribenho.
A Chevron voltou a operar na Venezuela após um acordo com o governo em novembro de 2022. A empresa, que celebrou 100 anos de operações em solo venezuelano em 2023, estava limitada em suas atividades desde 2019, quando Washington estabeleceu sanções a Caracas.
"O caso da Chevron poderia se repetir para os brasileiros porque a Petróleos de Venezuela [PDVSA] tem uma dívida pendente com a Petrobras", explicou o economista venezuelano e especialista em petróleo, Rafael Quiroz, em conversa com a Sputnik.
Segundo ele, a empresa brasileira "se beneficiaria se adotasse o mesmo modelo de negócio da Chevron, que é explorar o petróleo, produzi-lo e levá-lo ao exterior para vendê-lo". Nesse sentido, explicou que com este modelo "não paga royalties, não paga juros nem dividendos, pois a conta do petróleo amortecerá a dívida que a PDVSA tem".
Segundo o governo venezuelano, de janeiro a agosto de 2023 o país registrou um crescimento produtivo de 12% devido à recuperação das refinarias do país, que representaram mais de 810 mil barris de petróleo por dia.
A administração de Nicolás Maduro prevê, segundo suas estimativas, atingir um milhão de barris por dia até o final de dezembro e aposta no crescimento da produção de produtos refinados. Além disso, são esperados maiores investimentos para recuperar um setor que ficou "paralisado" em consequência das sanções.
Para Quiroz, a indústria petrolífera venezuelana ainda não apresenta "sinais de recuperação", pois considerou que a produção continua "estagnada" e acrescentou que, "se não houver recuperação da produção, o mercado venezuelano não regressa ao mercado petrolífero mundial de forma significativamente bem-sucedida".
Segundo o especialista, ainda é necessário algum "incentivo" para que a Petrobras invista em campos venezuelanos, visto que a empresa pode ficar tentada a concentrar seus esforços em outros projetos atrativos e promissores.
"A Petrobras está investindo muito no seu próprio campo, Pré-sal, e pretende se aventurar no xisto nos EUA, está entrando no México, na Argentina está analisando as possibilidades e mantendo conversas com pessoas de Trinidad e Tobago, Guiana", explicou.
Segundo Quiroz, caso retome a atividade no país, o Brasil não daria continuidade aos projetos anteriores, mas se inclinaria para novos projetos mais atrativos do ponto de vista comercial.
O maior interesse do Brasil e de outras transnacionais, porém, pode estar centrado no setor do gás, considerou.
"Quanto à indústria do gás, ainda estamos muito crus [incipientes], porém não interessa apenas ao Brasil, mas pode até interessar à Colômbia ou a alguns países europeus. Sabe-se da existência de jazidas de gás livre ou do que alguns chamam de gás natural", afirmou.
Segundo O Globo, a estatal brasileira já dava sinais em maio de 2023 de voltar sua atenção para a Venezuela.
Em seguida, o presidente da petrolífera anunciou o interesse em visitar novamente os países vizinhos, entre os quais mencionou Venezuela, Bolívia e Guiana para discutir novas possibilidades de exploração de gás, bem como a preparação de empresas focadas na transição energética.
No âmbito da Cúpula da Amazônia, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, se reuniu com Prates para aprofundar a cooperação no gás entre os dois países.
A Petrobras interrompeu suas atividades no país caribenho em 2019, quando o Brasil sob a gestão de Bolsonaro suspendeu suas relações diplomáticas com a Venezuela após reconhecer o oposicionista Juan Guaidó como presidente.