Operação militar especial russa

Rússia está preparada para se defender de 'mísseis obsoletos' dos EUA, diz especialista

Especialista em tecnologia militar comenta que as defesas antiaéreas russas são suficientes para conter o ATACMS, equipamento que os Estados Unidos forneceram à Ucrânia.
Sputnik
A defesa antiaérea da Rússia está bem adaptada para conter o Sistema de Mísseis Táticos do Exército (ATACMS, na sigla em inglês) MGM-140, de acordo com um especialista em tecnologia militar consultado pela Sputnik.
O equipamento pode até causar problemas para as forças russas, mas terá impacto limitado, devido a sua idade, já que são considerados obsoletos e têm alcance menor que versões mais recentes, segundo o fundador do portal MilitaryRussia.Ru, Dmitry Kornev.
Operação militar especial russa
EUA entregam mísseis ATACMS com alcance de 300 km à Ucrânia em meio à falhada contraofensiva
Recentemente os EUA confirmaram que realizaram tal entrega à Ucrânia. Os equipamentos foram utilizados para atacar o Exército russo em Berdyansk, no mar de Azov.
Anteriormente os americanos forneciam o Sistema de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade (HIMARS, na sigla em inglês), inferior ao ATACMS.
Segundo Kornev, os EUA hesitaram em providenciar o equipamento de alta distância, com receio de que Kiev pudesse utilizá-lo para atacar o interior do território da Rússia, de forma a escalonar o conflito.
O presidente russo, Vladimir Putin, comentou que a entrega dos mísseis é um "erro" que poderia "prolongar o sofrimento" da Ucrânia.

Como Kiev vai usar o ATACMS?

"Já vimos como e onde a Ucrânia pode usar esses mísseis", disse ele, se referindo ao conflito no mar de Azov. "Podemos prever que a Ucrânia vai utilizá-los nas áreas em que estão conduzindo ou planejando operações ativas."
Operação militar especial russa
Defesa antiaérea russa abate drones na região de Moscou e na Crimeia
"Onde os futuros mísseis serão utilizados? A pergunta é difícil, mas provavelmente será em algum lugar no território de Berdyansk, por conta do clima. Pela vontade de fazer ao menos alguma coisa antes do inverno. As forças ucranianas continuarão tentando contra-atacar", disse Kornev.

"Mas provavelmente os Estados Unidos vão continuar providenciando esses mísseis a depender de onde as forças ucranianas vão utilizar a primeira leva […] efetivamente, e se não vai haver opinião pública negativa."

Por que os EUA deram mísseis antigos a Kiev?

"Mísseis ATACMS existem em várias versões. A primeira versão, produzida na década de 1990, tinha alcance aproximado de 160 km. Versões recentes têm diferentes alcances: 250 km, 270 km e 300 km. São seis ou mais variantes com o mesmo nome."
Segundo Kornev, é possível também que os EUA tenham receio de que a Ucrânia utilize equipamentos com alcance máximo por serem capazes de atingir alvos na Crimeia.
"Eles têm diferentes estilos de combate, alcances ou características especiais no sistema de direcionamento. Claramente os Estados Unidos, pelo visto, não providenciaram os mísseis mais modernos para a Ucrânia por medo de perder a liderança tecnológica nessa área."
Exercícios militares dos EUA e da Coreia do Sul usando o Sistema de Mísseis Táticos do Exército (ATACMS), em 4 de outubro de 2022
"O argumento é que eles decidiram começar com mísseis velhos e ver como as forças ucranianas lidam com eles", explicou, acrescentando que os EUA podem dar mais mísseis avançados no futuro, com direcionamento GPS, no lugar da orientação inercial dos equipamentos antigos.
"Além disso, é preciso entender que os Estados Unidos, de um ponto de vista puramente mercadológico, estão interessados ​​em se livrar dos estoques antigos — isto é, daqueles mísseis dos quais eles próprios definitivamente não precisam", acrescentou.
Em 2019, os mísseis táticos americanos estavam limitados a 500 km pelo Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF). Depois que os EUA unilateralmente romperam com esse acordo, o Míssil de Ataque de Precisão (PrSM, na sigla em inglês) teve seu alcance estendido para além de 499 km.

Perigosa, mas não 'milagrosa'

Kornev observa que o ATACMS é uma nova ameaça para as unidades aéreas da linha de frente da Rússia e que deverá existir uma adaptação.
Sistema de mísseis americano ATACMS adquirido pelas Forças Armadas da Coreia do Sul
No entanto, o especialista militar ressalta que "armas milagrosas não existem" e que as forças ucranianas armadas com o ATACMS não poderão mudar o rumo do conflito por si só.
Kornev comenta que o equipamento é parecido com os mísseis Iskander utilizados pela Rússia. Segundo ele, o sistema de defesa russo já estava, anteriormente, preparado para derrubar os novos mísseis da Ucrânia.

É claro que devemos entender que ao usar tais mísseis, eles provavelmente serão usados ​​em grupos. Por exemplo, no ataque que vimos em Berdyansk, aparentemente três mísseis ATACMS foram usados, e provavelmente outros tipos de mísseis também foram usados ​​no mesmo ataque. Consequentemente há uma dispersão de sistemas de defesa aérea, […] e um ataque em grupo é mais difícil de abater."

"O ATACMS pode realizar manobras antimísseis. Em geral, em um primeiro momento, esse será um objetivo difícil, mas nossos sistemas são capazes de abater esses mísseis — tecnicamente eles são capazes disso."
Por fim, Kornev acredita que os maiores problemas dos mísseis para os ucranianos serão políticos, e não técnicos. "Se os Estados Unidos racionarem o número de mísseis ATACMS para as Forças Armadas ucranianas, então, é claro, isso causará problemas", disse ele.
Comentar