Quando a espaçonave Dawn, da agência espacial norte-americana NASA, orbitou Ceres entre 2015 e 2018, ela detectou água em várias formas no planeta, incluindo vapor e salmoura na crosta, e identificou compostos orgânicos chamados moléculas alifáticas na superfície perto de uma enorme cratera de impacto.
Uma pesquisa apresentada na reunião GSA Connects 2023 da Sociedade Geológica da América no início desta semana demonstrou como os cientistas tentaram explicar a presença dessas moléculas no planeta anão, que são semelhantes aos hidrocarbonetos encontrados em combustíveis fósseis na Terra.
Usando uma pistola de hipervelocidade para reproduzir em seu laboratório as condições de uma colisão de asteroide no corpo celeste do Sistema Solar, o estudo analisou se as moléculas orgânicas como as do planeta poderiam existir após a colisão de um asteroide. Eles testaram velocidades entre 7.000 km/h e 20.000 km/h e ângulos de impacto entre 15º e 90º em relação à horizontal.
A pesquisa sugere que as moléculas provavelmente foram desenvolvidas no próprio planeta, em vez de serem deixadas por asteroides que colidiram com com Ceres.
"Os elementos orgânicos foram inicialmente detectados nas proximidades de uma grande cratera de impacto, o que nos motivou a analisar como os impactos afetam esses elementos orgânicos", disse em um comunicado Terik Daly, cientista planetário do Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins, que liderou o estudo. Ele acrescentou que "os orgânicos podem estar mais espalhados do que o relatado inicialmente, e que parecem ser resistentes a impactos com condições semelhantes às do Ceres."
Os cientistas também combinaram dados da câmera e do espectrômetro da espaçonave Dawn e fizeram uma descoberta surpreendente, referindo que, apesar de outras pessoas já terem analisado as duas fontes separadamente, "ninguém havia adotado a abordagem que nossa equipe usou para extrapolar os dados de um instrumento para outro, o que proporcionou uma nova vantagem em nossa busca para mapear e entender a origem dos orgânicos em Ceres", disse a coautora Jessica Sunshine, da Universidade de Maryland, EUA.
"Ao capitalizar os pontos fortes de dois conjuntos de dados diferentes coletados em Ceres, conseguimos mapear áreas potencialmente ricas em matéria orgânica em Ceres com maior resolução", apontou Juan Rizos, astrofísico do Instituto de Astrofísica da Andaluzia, Espanha.
"Podemos ver uma correlação muito boa de orgânicos com unidades de impactos mais antigos e com outros minerais, como carbonatos, que também indicam a presença de água. Embora a origem dos orgânicos ainda seja pouco conhecida, agora temos boas evidências de que eles se formaram em Ceres e provavelmente na presença de água."
Segundo os pesquisadores, as evidências indicam a possibilidade de que um grande reservatório interno de orgânicos possa ser encontrado em Ceres.