Panorama internacional

'ONU não tem legitimidade ou relevância', diz embaixador de Israel; país rejeita cessar-fogo

Em meio aos embates entre Israel e a Organização das Nações Unidas (ONU), o embaixador do país na organização, Gilad Erdan, disse que ela não tem relevância nem legitimidade. A declaração foi dada após a aprovação, por 120 votos a 14, da resolução da Jordânia que pede uma trégua humanitária imediata entre Hamas e Israel.
Sputnik
O Ministério das Relações Exteriores também declarou que o país rejeita o pedido de cessar-fogo solicitado pela comunidade internacional e reforçou a intenção de destruir o Hamas.

"Todos testemunhamos que a ONU já não tem um pingo de legitimidade ou relevância. Esta organização foi criada com o propósito de prevenir atrocidades. O espetáculo que acabamos de ver prova que a ONU está empenhada, infelizmente, não em prevenir, mas em garantir mais atrocidades", disse Erdan.

O texto apelou para uma "trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada", exigindo que todas as partes cumpram o direito humanitário internacional e o fornecimento "contínuo, suficiente e sem entraves" de fornecimentos e serviços essenciais à Faixa de Gaza.
O conflito já deixou mais de 8 mil pessoas mortas, entre palestinos e israelenses, além de destruir cidades inteiras na Faixa de Gaza. Por conta do número de feridos, que ultrapassa 18 mil, os hospitais do território estão em colapso total, segundo a ONU. A região passa por uma crise humanitária sem precedentes, com falta de insumos básicos como comida, remédios e até água.
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Para o representante israelense, a resolução aprovada diz que o país não tem direito de se defender dos ataques do Hamas. "Não haverá negociações ou discussões. Não ficaremos de braços cruzados e permitiremos que eles se rearmem e cometam tais atrocidades novamente. Não o faremos, como não faríamos com nenhum Estado-membro da ONU", acrescentou.
Além de Israel, votaram contra a resolução países como Estados Unidos, Hungria, Áustria, Croácia e República Tcheca. Na América Latina, o Paraguai foi o único país a rejeitar o texto. Gilad Erdan defendeu ainda que a única maneira de defender o território judeu é destruindo "o potencial terrorista do Hamas".

Já países como o Brasil e a Rússia condenam as hostilidades e pedem uma saída para o conflito através da diplomacia. "O ato do Hamas foi terrorista […], não é possível fazer um ataque, matar inocentes, sequestrar gente da forma que eles fizeram, sem medir as consequências do que acontece depois. Porque, agora, o que nós temos é a insanidade do primeiro-ministro de Israel [Benjamin Netanyahu], querendo acabar com a Faixa de Gaza, se esquecendo que lá não tem só soldado do Hamas, que lá tem mulheres e crianças, que são as grandes vítimas dessa guerra", defendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pouco antes da aprovação do texto.

Texto foi aprovado em meio ao aumento das tensões

Os ataques de Israel contra a Faixa de Gaza se intensificaram nesta sexta-feira (27), e o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI) chegou a dizer que era o início da operação terrestre planejada pelo país. Tanques chegaram a entrar no território, na região norte, a mais afetada pelo conflito, mas recuaram após embates com o Hamas. Os militares voltaram atrás e disseram que a ação não era o início oficial da incursão.
A região vive um bloqueio por terra, água e ar desde o início do conflito e só no último fim de semana começou a receber ajuda humanitária. Mesmo assim, os estoques de alimentos, remédios e combustível estão quase no fim. Nesta sexta, Israel anunciou mais uma medida que deve piorar a situação do território: o corte na telefonia e na Internet.
O Hamas se manifestou depois que Israel anunciou a incursão terrestre, dizendo que a medida só ia gerar "mais massacres e genocídios longe dos olhos da imprensa e do mundo". Além disso, o movimento apelou aos países árabes e à comunidade internacional para que fossem tomadas medidas imediatas para pôr fim à guerra perpetuada por Israel.

Suspensão de vistos para funcionários da ONU

Nesta semana, Israel chegou a suspender a emissão de vistos para funcionários da ONU depois de críticas do secretário-geral da organização, António Guterres, às ações militares em Gaza. "Perante as suas declarações sobre Israel e os palestinos, recusamo-nos a fornecer vistos aos representantes da ONU. Já recusamos um visto ao secretário-geral adjunto para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths", disse Gilad Erdan à época.
O secretário da ONU alegou que Israel comete "graves e claras" violações do direito internacional em Gaza e que "o povo palestino está submetido há 56 anos a uma ocupação sufocante e tem visto sua terra devorada pouco a pouco por assentamentos [israelenses]".
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