O número de mortos já ultrapassa dez mil, a grande maioria palestinos, e desse total 3,2 mil são crianças. No início do mês, o país chegou a apresentar uma resolução que pedia um cessar-fogo para o envio de ajuda humanitária e por pouco não foi aprovada: 12 países votaram a favor e os Estados Unidos, que têm poder de veto, não deixaram o texto ser implementado.
"Minhas perguntas a todos vocês são: se não agora, quando? Quantas vidas mais serão perdidas até que nós finalmente passemos do discurso para a ação?", questionou sobre a escalada do conflito na Faixa de Gaza. A principal cidade do território, que conta com quase 2,3 milhões de habitantes, passou a ser atacada nesta segunda por terra, mar e água.
Para o ministro, divergências internas entre os membros, principalmente os permanentes [são eles Estados Unidos, Reino Unido, China, Rússia e França], levaram aos impasses e uso do conselho apenas "para alcançar seus próprios propósitos, em vez de colocar a proteção de civis acima de tudo".
Durante o duro discurso, Vieira ainda enfatizou que as crises humanitárias como em Gaza exigem que as rivalidades sejam abandonadas. "O fato de o conselho não ser capaz de cumprir sua responsabilidade de salvaguardar a paz e a segurança internacionais devido a antigos antagonismos é moralmente inaceitável", acrescentou.
Além disso, o ministro disse que qualquer Estado tem direito de se defender, mas devem respeitar "o direito humanitário internacional, em especial os princípios de distinção, proporcionalidade, precaução, necessidade militar e humanidade". Por conta dos bombardeios diários contra a população civil, Israel tem recebido críticas da ONU e chegou a impedir a entrada de representantes da entidade em seu território.
Falta ajuda humanitária
Enquanto a ajuda humanitária chega a conta-gotas, com a entrada de apenas 150 caminhões em pouco mais de uma semana, os hospitais estão em colapso, falta comida e muitas pessoas já recorrem a fontes de água poluídas. Conforme a ONU, são necessários pelo menos 300 veículos por dia para amenizar a situação.
O ministro brasileiro lembrou que o início do envio de mantimentos, água e remédios só começou por conta de um acordo entre Egito, Estados Unidos, Israel e ONU, porém tem sido insuficiente frente às necessidades da Faixa de Gaza. Por fim, Vieira alegou que cerca de 30 brasileiros seguem no território e não conseguem sair.
A guerra começou no dia 7 de outubro, quando o movimento fez um ataque surpresa com foguetes em grande escala que atingiu o território de Israel. Além disso, militantes atravessaram a fronteira pela região sul e provocaram centenas de mortes, além de sequestrar mais de 220 pessoas. A maioria ainda segue sob o poder do Hamas. Uma das regiões mais pobres do mundo, Gaza tem mais de 80% da população na pobreza e sofre um bloqueio israelense por terra, ar e mar desde 2007.
Na última semana, a Assembleia Geral da ONU chegou a aprovar a resolução da Jordânia que pede um cessar-fogo imediato, o que foi rejeitado por Israel e Estados Unidos. O embaixador do país na entidade chegou a dizer que as Nações Unidas "não possuem legitimidade" para interferir no conflito.
Rússia diz que pausa humanitária não é suficiente
O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, disse durante a reunião do Conselho de Segurança que pausas humanitárias não vão ajudar a acabar com a guerra. "O tempo para medidas tímidas e apelos simplificados acabou. Nenhuma pausa humanitária ajudará. É impossível fornecer ajuda no meio da guerra", declarou. Segundo ele, entre os mortos pelos ataques estão inclusive trabalhadores que levam ajuda à Faixa de Gaza.
Para a autoridade russa, há intenção clara dos Estados Unidos e de Israel em "exterminar a população de Gaza ou expulsá-la da região". Segundo Vasily Nebenzya, são necessárias medidas para retomar a negociação entre israelenses e palestinos para a criação do Estado independente árabe dentro das fronteiras traçadas em 1967.