"Desde criança eu nunca havia visto um soldado israelense, porque meus pais me escondiam quando eles entravam (...) fiz faculdade na Universidade de Matemática e Educação. Depois desse tempo todo, eu vi que tem muitos formados lá, mas eles não têm emprego, não têm nada. Eles vão trabalhar como ajudantes, mas eu tinha uma profissão lá, era arqueólogo, a profissão do meu pai. Eu estava trabalhando, mas consegui juntar um dinheirinho e desejei sair de lá", relata.
"Tem que passar pela fronteira com o Egito. Eu saí porque eu paguei 1.800 dólares [R$ 9.075]. Não sei para quem vai [o dinheiro], mas deve ser para aqueles que trabalham lá, para facilitar um pouco. Um pouco, não é muito. Eles colocam você para sair daqui a umas 3 semanas. Aí você vai lá, tem um processo que vai durar uns 5 dias para você cruzar a passagem só. Você passa o ponto na Faixa de Gaza, depois pelo governo palestino, aí você vai ao Egito, e no Egito você demora muito. Se Israel aceitar, você entra", explica Mohammad.
"Se você chega perto da fronteira, acho que 500 metros, você vai ser morto. Em um ano, durante a minha vida lá, mataram milhares. Continuou esse projeto por anos, depois eles cansaram de muitos mortos. Eles controlam a vida das pessoas. Por exemplo, não pode entrar produto de construção, sementes, ferro, madeira, até produto escolar, por exemplo, caneta, papel, grampeador. Você pensa: 'Que coisa idiota estar proibindo isso'. Eles têm outra intenção. Querem acabar com o estudo, acabar com a educação na Faixa de Gaza", critica o refugiado.
No Brasil, dificuldades caminham com a esperança
"Eles [brasileiros] falam que [Israel] é o povo de Deus, da Bíblia. Se você estudar a Bíblia direitinho, você vai entender que eles não são. Eles odeiam Jesus, eles odeiam os cristãos, eles tratam cristãos como lixo. Aí eu falo assim: 'Caramba, você está defendendo eles? Vocês estão a favor deles? Vocês amam eles mais que si próprios e não sabem o que eles pensam de vocês?", reflete Mohammad.
"Eu liguei pro meu irmão hoje. Ele falou pra mim que meus tios, todos foram mortos, junto com os filhos deles e familiares. Até o momento, foram 45 mortos. Eles estão matando familiares, não pessoas. A tia do meu pai, a irmã do meu vô, ela morreu com familiares dela. Foram 44 pessoas. O primo da minha mãe, ele morreu com 24 pessoas. O outro primo do meu pai, ele morreu com 16 pessoas. Mais um outro morreu, com 35", completa.
"[Sobre ver a Palestina livre] eu sonho sim, mas só em sonho. Isso é coisa de Deus, pra mim. Deus quer. Ele entra nesse conflito, manda os anjos dele, manda os soldados dele, e aí, [a situação] vai virar, porque tudo está nas mãos dele", completa Mohammad.