Panorama internacional

Relatório revela estrutura criminal em rota de migração para os EUA a partir da selva colombiana

Entrar na selva de Darién, na Colômbia, representa um perigo duplo para milhares de migrantes: além da natureza impiedosa, há ainda organizações criminosas que transformaram essa rota em caminho clandestino para o tráfico de drogas e também para pessoas que sonham em chegar aos Estados Unidos.
Sputnik
Um relatório publicado nesta sexta-feira (3) relata como operam as Autodefesas Gaitanistas da Colômbia, também conhecidas como Clan del Golfo, que agem ao lado de gangues no Panamá em um negócio lucrativo, tirando vantagem do crescente fluxo de migrantes.
Conforme a pesquisa "O gargalo das Américas: crime e migração no bloqueio de Darién", até setembro quase 409 mil migrantes atravessaram a selva, sendo 60% do total venezuelanos. Na sequência aparecem equatorianos, haitianos, chineses e colombianos. "A economia dos migrantes gera milhões de dólares por semana, de acordo com estimativas do Grupo de Crise [Internacional]. Supostamente, o grupo ganha entre US$ 50 e US$ 80 (R$ 245 e R$ 392) por cada migrante que atravessa Darién", detalha o relatório.
O Clan del Golfo é o maior cartel de tráfico de drogas ativo na Colômbia e mantém o controle sobre comunidades inteiras da região de Darién, inclusive com a imposição de multas e punições à população. Além disso, define rotas que os migrantes podem usar e chega a enviar com eles até carregamentos de cocaína.
E quem coloca um migrante em risco no território ainda é considerado um "alvo militar" da organização criminosa. Na maior parte dos casos, o grupo não está diretamente envolvido no transporte dos migrantes pela selva, mas recebe dinheiro de coiotes por cada um que passa pela região e até de prestadores de serviços no território, como hotéis.
A pesquisa traz ainda uma conversa com o líder político da organização criminosa, que justifica as ações para deter o abuso contra migrantes. "Controlamos traficantes de drogas que passam por aqui, controlamos turistas, controlamos qualquer pessoa que percorra qualquer corredor desses que seja de nosso território. Controlamos para proteger a vida", afirmou.

Rota pode durar até dois dias

Para cruzar toda a selva, os migrantes podem levar até dois dias e são acompanhados de autodenominados guias. A parte mais perigosa e extensa da travessia é no Panamá, onde o controle do território é exercido por várias gangues, a maioria formada por indígenas locais.

"Vários migrantes sofreram agressões, estupros e roubos nessa etapa da viagem. 'Coiotes', representantes de organizações humanitárias e migrantes culpam as gangues que operam no lado panamenho. […] Acredita-se que as gangues, que passaram de facões para armas de fogo e usam rádio-telefones para coordenar, são responsáveis por muitos dos ataques", explica o documento.

Com cerca de 5 mil km2 de matas tropicais, rios e montanhas íngremes, a região de Darién conecta a América do Sul e a América Central e é usada por migrantes que não possuem dinheiro para arcar com passagens aéreas, documentações e hospedagens para chegarem aos Estados Unidos.
Na floresta há grupos indígenas como emberá e gunadule, que sofreram mudanças em sua cultura e deixaram a agricultura, em parte, para atuar com atividades ligadas à passagem dos migrantes pela região. "Agentes humanitários denunciaram casos de emberá que buscam migrantes fora de seus territórios ancestrais, atacando ou forçando desvios na selva para garantir benefícios à sua comunidade", enfatiza.
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Sem muito controle estatal no território de Darién, os governos de Colômbia, Panamá, Costa Rica e Estados Unidos tentam criar planos conjuntos para acabar com o problema.
Além disso, o Grupo de Crise Internacional recomenda que esses países prestem ajuda humanitária e de segurança na Venezuela, no Haiti e no Equador, locais de origem da maioria dos migrantes.
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