Panorama internacional

Resistência e falta de humildade fazem Netanyahu perder largo apoio após ataque, diz mídia britânica

Seis vezes premiê, Netanyahu se posicionou como "senhor segurança" para permanecer na política durante grande parte dos últimos 14 anos. No entanto, não ter previsto o ataque do Hamas e não pedir desculpas por isso está sendo imperdoável para os israelenses, escreve jornal.
Sputnik
O conflito que estourou em Israel no começo do mês passado está tendo vários desdobramentos graves, tanto internos quanto externos. Porém, um fato parece certo: a queda brusca de popularidade do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O Financial Times relata que os israelenses estão se unindo após o ataque que vitimou 1.403 pessoas e que há apoio à invasão terrestre da Faixa de Gaza e ao objetivo de guerra de Tel Aviv de destruir o Hamas. No entanto, apesar da onda de patriotismo, mesmo os da direita estão furiosos com o primeiro-ministro.
Segundo a mídia, grande parte da frustração do público com o premiê está centrada na sua firme recusa em pedir desculpas pelo fracasso de Israel em prever ou impedir o ataque de 7 de outubro, principalmente porque o líder sempre defendeu que o serviço de inteligência israelense é um dos melhores do mundo.
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Uma sondagem publicada no jornal Maariv no final do mês passado revelou que 80% dos israelenses queriam que ele assumisse a responsabilidade pelas falhas de inteligência e segurança que precederam o ataque.
Apenas 29% dos entrevistados disseram que Netanyahu era o seu primeiro-ministro preferido, uma queda acentuada quando comparado a antes da guerra, enquanto 48% escolheram Benny Gantz como um líder melhor. Ele é presidente do Partido da Resiliência de Israel, grupo de centro-direita, e membro do gabinete de guerra.
"Netanyahu nunca esteve em um ponto tão baixo", disse Tamar Hermann, investigadora sênior do Instituto de Democracia de Israel (IDI, na sigla em inglês).
O conselheiro do premiê que se tornou analista político, Aviv Bushinsky, tem a sua própria teoria sobre a razão pela qual o primeiro-ministro se recusa a assumir qualquer culpa.

"Ele está preocupado que isso se torne uma frase de efeito que seria tocada até enjoar e prejudicaria as suas perspectivas de permanecer no poder", disse Bushinsky, ouvido pelo Financial Times.

Embora a máquina partidária do Likud tenha até agora se unido em torno do primeiro-ministro, a sua resistência está alimentando um afastamento mais amplo do partido, escreve a mídia.
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Ainda de acordo com o jornal, a raiva de Netanyahu é palpável nas ruas estreitas de Machane Yehuda, um grande mercado coberto no centro de Jerusalém que há muito tempo é reduto do partido Likud.

"Netanyahu se vendeu como senhor segurança, e então isso aconteceu. Ele tem que ir. Bibi acabou, de jeito nenhum ele poderá permanecer no poder depois disso", afirmou Ya'akov Levin, vendedor de vinho no mercado e defensor de longa data do partido ouvido pela mídia.

A insatisfação popular atingiu novos patamares depois de Netanyahu dizer em um post no X (antigo Twitter), no final de outubro, que os chefes militares e de segurança de Israel não haviam fornecido qualquer aviso sobre o ataque do Hamas.
Homem com placa mostra cinco rostos do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu manchados com marcas de mãos vermelhas durante protesto pedindo a libertação de reféns mantidos por militantes palestinos desde o ataque de 7 de outubro. Tel Aviv, 28 de outubro de 2023
O primeiro-ministro provocou uma resposta furiosa, com Benny Gantz insistindo que ele se retratasse. "Quando estamos em guerra, liderança significa mostrar responsabilidade", escreveu ele no X. Netanyahu excluiu a postagem ofensiva e pediu desculpas.
Altos funcionários civis e militares — incluindo o ministro das Finanças de Israel, o chefe da inteligência militar, o chefe do Shin Bet e o chefe do Estado-Maior — admitiram todos os fracassos na preparação para o ataque do Hamas, mas Netanyahu se recusou até agora a assumir a responsabilidade pelas deficiências.
Vale lembrar também que, meses antes do ataque, milhares de israelenses foram às ruas para protestar contra a reforma do sistema judicial proposta pela coligação do primeiro-ministro, que inclui partidos judeus de extrema-direita e ultraortodoxos.
O plano dividiu profundamente o país e desencadeou o maior movimento de protesto da história de Israel, a ponto de Joe Biden convidar Netanyahu para uma reunião em Washington após expressar preocupação sobre a democracia no país, escreveu o jornal O Globo em julho. Portanto, o desgaste político de Bibi vem em movimento progressivo.
Forças de segurança israelenses montam guarda enquanto manifestantes agitam a bandeira nacional na entrada do Knesset, em meio a uma onda de protestos que durou meses contra a planejada reforma judicial do governo, em 24 de julho de 2023
Questionado se seria formado um inquérito estatal para investigar as falhas em uma conferência de imprensa no sábado (28), Netanyahu disse: "Depois da guerra, todos terão de dar respostas a perguntas difíceis, e isso me inclui."
Ele disse que as autoridades "não deixarão pedra sobre pedra" na investigação do desastre de 7 de outubro, mas que a sua "missão suprema neste momento é salvar o país" e levá-lo a uma "vitória decisiva sobre o Hamas".
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