Passado um mês, o conflito segue sem previsão de acabar e com uma intensificação da ofensiva das Forças de Defesa de Israel (FDI). O número de mortos já ultrapassa 10,3 mil só na Faixa de Gaza, onde se concentram os ataques, e mais de 24 mil pessoas ficaram feridas.
De acordo com as autoridades palestinas, 70% dos óbitos são de crianças, mulheres e idosos. Enquanto isso, Israel segue em silêncio sem a perspectiva de um cessar-fogo, mesmo com a pressão internacional. A única declaração é de uma pausa humanitária para a chegada de ajuda.
Até o momento, cerca de 500 caminhões conseguiram entrar pelo posto de controle na fronteira entre Gaza e o Egito, o único que não é controlado por Israel. O número é muito inferior às necessidades da população que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é de pelo menos 300 por dia.
Os bloqueios por terra, ar e mar deixam os estoques de alimentos, água, medicamentos e combustíveis praticamente no fim, com hospitais em total colapso e, inclusive, alvo de bombardeios. A população recorre há semanas a fontes de água poluída.
O último ataque perto de um hospital na cidade de Gaza deixou mais de 50 mortos e foi justificado por Israel por conta da presença de comandantes do Hamas atendidos nas ambulâncias. Com mais de um milhão de pessoas evacuadas, a ONU revelou nesta terça-feira (7) que até 600 pessoas dividem um único banheiro em abrigos mantidos pela entidade.
Ao todo, 2,3 milhões de pessoas vivem na Faixa de Gaza, considerada uma das regiões mais vulneráveis do mundo: 80% da população já vivia na faixa da pobreza antes do conflito, e os índices de desemprego ultrapassavam 45%.
Outro retrato da guerra aconteceu na semana passada, quando Israel atacou o maior campo de refugiados de Gaza, o Jabalia, quando mais de 200 pessoas foram mortas. Na última segunda (6), outro bombardeio, dessa vez em Maghazi, onde vivem quase 120 mil pessoas: o número de mortos foi de quase 50.
Para o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), há um possível crime de guerra por parte de Israel. Apesar disso, a possibilidade de um cessar-fogo é distante, e o país só fala em uma pausa humanitária para intensificar a entrada de ajuda e a liberação dos mais de 220 reféns sob o poder do Hamas.
Já o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, chega a um mês de guerra desgastado. Apoiado pela extrema-direita israelense, o premiê tem a atuação em meio ao conflito vista com desconfiança, crítica e apoio. No fim do mês passado, Netanyahu chegou a publicar nas redes sociais que não recebeu nenhum aviso da inteligência de Israel sobre o ataque do Hamas, o que deu início às contestações, acrescidas ao elevado número de civis mortos em Gaza.
Netanyahu já deixou claro diversas vezes que o conflito só irá parar quando o Hamas for destruído, apesar de autoridades do país temerem que o confronto só deve fazer surgir um movimento ainda mais radical.
No país, há pessoas como Maayan, de 38 anos, que pediu para não ser identificada. Ela perdeu os pais em uma das comunidades atacadas por militares do Hamas no dia 7 de outubro, ao sul de Israel. Para a israelense, é difícil assistir às imagens "devastadoras" de destruição e morte vindas da Faixa de Gaza.
"Me enlouquece quando as pessoas dizem 'sou pró-palestino' ou 'sou pró-israelense. Sou pró-paz. Meus pais teriam dito o mesmo", disse à AFP.
País tem homenagem aos mortos pelo ataque
O silêncio marcou um mês do ataque que escalou a guerra entre Israel e o Hamas. Multidões de luto tomaram as ruas do país judeu pelas 1,4 mil vítimas no lado israelense, a maioria civis. O presidente da Universidade Hebraica de Jerusalém, Asher Cohen, disse que tudo isso "deixou uma marca horrível", mas acredita que "haverá renascimento".
Também houve pedidos para a liberação das mais de 220 pessoas mantidas em cárcere pelo Hamas. "Estamos todos desesperados, horrorizados. Queremos adicionar um pouco de esperança", disse Adi Stern, presidente da Academia de Artes e Design Bezalel de Jerusalém.
Em Tel Aviv, um professor segurava a imagem do filho que foi morto por atiradores do Hamas durante um festival de música eletrônica. "Não há uma única pessoa que não tenha sido afetada por esses ataques horríveis", disse Sharon Balaban, de 52 anos.
O conflito entre palestinos e israelenses, relacionado a interesses territoriais, tem sido uma fonte de tensão e confrontos na região por décadas. A ONU decidiu, em 1947, criar dois Estados, Israel e Palestina, mas apenas o Estado israelense foi estabelecido.