De acordo com o Financial Times (FT), o novo presidente do esquema internacional de certificação para diamantes de guerra atacou um plano do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) de nações desenvolvidas para seguir e rastrear os diamantes russos, alertando para "danos irreparáveis" aos produtores africanos.
Eleito esta semana para assumir o comando do Processo de Kimberley — um órgão multilateral encarregado de limpar o comércio de diamantes —, Ahmed bin Sulayem disse que qualquer esquema proposto "deve levar em conta as nações africanas produtoras de diamantes", como Botsuana, a República Democrática do Congo e a África do Sul.
O chefe de política externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse na semana passada que o bloco estava pronto para avançar com a proibição dos diamantes russos depois de garantir apoio suficiente do G7, embora a disputa envolvendo os diamantes seja apenas a mais recente ruptura entre a Europa e as capitais africanas, segundo a apuração.
Uma reunião ministerial marcada para a próxima semana foi adiada depois que as autoridades decidiram que havia poucas chances de os dois lados chegarem a um acordo sobre um comunicado conjunto contendo linguagem sobre a guerra de Israel contra o Hamas e o conflito na Ucrânia, de acordo com três fontes ouvidas pelo FT.
O Processo de Kimberley é o organismo global criado há duas décadas para eliminar o comércio de diamantes de conflito na sequência de uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), devido ao alarme internacional aos "diamantes de sangue" da Serra Leoa. Entretanto, a incapacidade do processo de rotular as pedras russas como "diamantes de conflito" gerou frustração no Ocidente.
A UE argumentou que é necessário um sistema de rastreabilidade para verificar a origem de um diamante e tornar as sanções eficazes contra as pedras russas.
A Bélgica apresentou quatro propostas para a criação de um sistema de rastreabilidade para diamantes ao longo de sua cadeia de abastecimento, abrindo assim espaço para a aplicação de sanções contra as pedras russas. Em uma delas, o país se torna um "gatekeeper" para a verificação dos diamantes que entrarem nos Estados-membros do G7.
No entanto, as nações africanas estão preocupadas — além de terem sido excluídas das discussões do grupo — com a possibilidade das sanções se transformarem em danos colaterais para o setor, por exemplo, redirecionando o seu lucro para a Antuérpia.
Sulayem disse que a opinião predominante dos ministros africanos na recente reunião do Processo de Kimberley "era que o esquema belga proposto penalizaria as nações africanas produtoras de diamantes, causando-lhes danos irreparáveis".
A Associação dos Países Africanos Produtores de Diamante (ADPA), que representa 19 produtores responsáveis por 60% da produção mundial, alertou no mês passado que a proposta "traria perturbações na cadeia de abastecimento, encargos e custos adicionais" para os países mineradores.