"A gente está muito feliz, eu não acredito até agora que consegui sair dali viva", disse à Agência Brasil Shahd al-Banna, que vivia em São Paulo e vai voltar para casa. A brasileira estava na Faixa de Gaza para acompanhar a mãe doente, que queria se despedir da família, quando o conflito entre Israel e Hamas começou. "Ela teve câncer e faleceu".
Shahd foi entrevistada pela Sputnik Brasil quando ainda estava em Gaza. Na ocasião, ela contou detalhes do horror diário sofrido pela população sob os bloqueios e os bombardeios por parte de Israel.
Mais de 1,6 milhão de pessoas que vivem no território palestino precisaram deixar suas casas por conta dos bombardeios e vivem em abrigos improvisados. A guerra já deixou quase 11,5 mil pessoas mortas. Em mais uma escalada do conflito, as Forças de Defesa de Israel (FDI) fizeram uma operação dentro do maior hospital da cidade de Gaza, o Al-Shifa, que tem mais de 1,5 mil pacientes, além de servir de abrigo para quase sete mil. A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou estar "horrorizada" com a ação.
Mais de um mês de espera
Por conta do cerco israelense na Faixa de Gaza, que impediu por semanas até a entrada de itens de necessidade básica, como água e alimentos, o grupo de brasileiros aguardou mais de um mês para deixar a região. Os estrangeiros que podem deixar o território são anunciados previamente e saem através da fronteira de Gaza com o Egito, em Rafah.
Familiares de Shahd ainda seguem nas áreas dos bombardeios, que são cada vez mais intensos. "Estamos preocupados com quem ficou lá. Não vou conseguir ter completa felicidade até que eles venham para cá", contou. Entre o grupo que chegou a São Paulo, nove vão para a casa de familiares e outros 17 para um abrigo no interior do estado, cuja cidade não foi divulgada.
O espaço é destinado especificamente para receber refugiados e as cinco famílias serão instaladas em unidades individuais com quartos e banheiros, além de um refeitório para alimentação e espaço de convivência. O grupo pode seguir no local por tempo indeterminado, já que não possuem outro lugar para se instalarem.
Em Brasília, os repatriados receberam atendimentos médico e psicológico, além de regularização migratória para acesso a documentos como RG, CPF, segunda via de certidão de nascimento, autorização de residência e de trabalho e visto de permanência temporário.
15 de novembro 2023, 11:48
Quase 1,5 mil brasileiros repatriados
Desde o início do conflito entre Hamas e Israel, na Faixa de Gaza, o governo federal realiza a Operação Voltando em Paz. O retorno do atual grupo será o décimo da missão, em uma aeronave cedida pela Presidência da República que realiza o trabalho há quase um mês no Egito. Os demais partiram de Tel Aviv, em Israel, e de Amã, na Jordânia, com brasileiros que estavam na Cisjordânia.
Ao todo, 1.477 passageiros foram repatriados, sendo 1.462 brasileiros, 11 palestinos, três bolivianas e uma jordaniana. Além desse grupo, a operação ainda trouxe 53 animais domésticos para o Brasil.
Momentos de tensão
Desde o início da abertura da fronteira entre Gaza e o Egito para a saída de brasileiros, havia expectativa com a lista de pessoas autorizadas por Israel. Após várias conversas entre as diplomacias brasileira e israelense, foi prometido que o grupo de brasileiros deixaria o território na última quarta (8), o que não foi cumprido. Na sexta (10), a fronteira foi fechada por conta dos bombardeios israelenses e liberada só no domingo (12).
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse na época que viu com "muita satisfação" o retorno dos brasileiros, mas lembrou da gravidade do conflito. "É uma região em guerra, as circunstâncias são complexas e difíceis. Havia acordos na região que estabeleciam que primeiro, diariamente, antes da abertura da passagem para civis, haveria necessidade de saírem ambulâncias com os feridos. Nos dias que não foi possível saírem as ambulâncias, não houve travessia de ninguém no ponto de partida [Portal de Rafah]", declarou.