Em uma entrevista à emissora local Canal 12, Lapid, que lidera a oposição parlamentar em Israel, afirmou que o país não pode se dar ao luxo de "conduzir uma guerra prolongada com um primeiro-ministro em quem o público não confia". Por isso, ele defendeu a saída imediata do premiê.
Além disso, Yair Lapid, que lidera o partido Yesh Atid ("Há um futuro", em hebraico), declarou que estaria disposto a se juntar a um governo liderado por partidos de direita, desde que Netanyahu e seus parceiros ortodoxos, que compõem a atual coalizão governante, fiquem de fora.
Desde o ataque do Hamas, que causou a morte de 1,2 mil pessoas, a maioria israelenses, as críticas internas ao governo de Netanyahu aumentaram. O primeiro-ministro é acusado de descuidar da segurança do país ao se distrair defendendo seu projeto de reforma judicial e também julgamentos na Justiça por corrupção.
Embora vários partidos políticos tenham decidido se juntar ao gabinete de emergência estabelecido após 7 de outubro, Lapid e seu partido, que controlam 24 das 120 cadeiras do parlamento israelense, recusaram a oferta de se juntar à coalizão governante.
Sem autocrítica
Os críticos do primeiro-ministro israelense também o acusam de não fazer autocrítica em relação à política que ele implementou durante seus 15 anos no poder em relação aos palestinos. Desde 2007, a Faixa de Gaza, que é um dos territórios mais vulneráveis do mundo e tem 80% da população na faixa da pobreza, sofre um bloqueio por Israel, que controla as fronteiras por terra e mar.
Além disso, Netanyahu é questionado sobre a ambição de estabelecer um Estado próprio, preferindo intensificar o confronto com o Hamas e promover uma política de expansão dos assentamentos judeus na Cisjordânia, nas Colinas de Golã e em Jerusalém Oriental.
Paralelamente às críticas em Israel por parte da população, da imprensa e das lideranças políticas, os apelos a Netanyahu (e ao seu principal parceiro, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden) para um cessar-fogo, que multiplica as vítimas civis na Faixa de Gaza por milhares, crescem no cenário internacional.
Pela primeira vez desde o início do conflito, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou nesta semana uma resolução que pede uma pausa humanitária longa em Gaza para que a população civil seja retirada e também a ajuda com alimentos, remédios, água e combustíveis chegue de forma mais efetiva. O território tem cerca de 2,3 milhões de habitantes, sendo que 1,6 milhão precisou deixar suas casas por conta dos bombardeios.
No entanto, tanto o primeiro-ministro israelense quanto o presidente norte-americano rejeitaram categoricamente a possibilidade, com Tel Aviv aceitando apenas pausas diárias de quatro horas para que os cidadãos possam fugir, enquanto o governo do presidente democrata aumenta secretamente os envios de armas e munições para Israel.
Netanyahu também anunciou recentemente que pretende, após a consumação da invasão a Gaza, assumir o controle da segurança do território. Ele afirmou ainda que a luta contra o Hamas continuará "com toda a sua força" até que cada um de seus membros perca a vida.
O primeiro-ministro voltou ao poder no fim do ano passado, após menos de um ano afastado por não ter conseguido apoio para a formação de um governo. Porém, dessa vez Netanyahu formou a gestão mais à direita da história do país, com apoio de partidos ultraortodoxos e figuras como o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir.
Projeto de lei sobre pena de morte
Em meio à escalada do conflito na Faixa de Gaza, o Conselho de Segurança Nacional de Israel vai discutir na próxima semana um polêmico projeto de lei que prevê pena de morte.
Conforme a publicação, a iniciativa da proposta é justamente de Itamar Ben-Gvir, líder de um dos principais partidos de extrema-direita do país. O político também é conhecido por seus discursos de ódio contra a população árabe e já chegou a defender a expulsão do grupo em Israel, além de defender os judeus mais radicais.
A proposta prevê que os tribunais sejam obrigados a impor pena de morte a qualquer pessoa condenada por assassinar um cidadão de Israel caso tenham "motivação racista e visarem causar danos ao povo judeu e ao renascimento do povo judeu em sua terra natal".
Em Israel, a pena de morte é prevista para casos de genocídio, crimes contra a humanidade e também contra o povo judeu durante a guerra. A última vez que foi aplicada no país aconteceu em 1962, quando o criminoso nazista Adolf Eichmann foi enforcado por decisão judicial.