De acordo o Financial Times (FT), a União Europeia (UE) aprendeu a lição sobre a China. Segundo o antigo comissário europeu do Comércio, Karel De Gucht, o bloco está aumentando a pressão sobre Pequim devido ao crescente déficit comercial bilateral, desfavorável para a UE.
Em 2013, quando De Gucht ainda ocupava o cargo de comissário de Comércio da UE, teve uma experiência no setor europeu de produção de painéis solares que deveria ter sido uma lição para a liderança europeia.
"Não fomos duros o suficiente. Não fomos rápidos o suficiente. E nessa altura já não existiam produtores europeus", disse ele ao FT em entrevista.
As investigações sobre as exportações de dióxido de titânio e de plataformas aéreas de trabalho para a indústria de manutenção de edifícios se seguiram a uma sindicância sobre alegados subsídios chineses a veículos elétricos, lançada em outubro.
Juntamente com uma série de outros casos comerciais, as medidas se somam a um impulso sem precedentes por parte de Bruxelas para mudanças na política e prática comercial chinesa que alguns responsáveis da UE dizem estar dando sinais de sucesso.
A Comissão Europeia iniciou a avaliação dos subsídios aos fabricantes chineses de veículos elétricos antes de eles ganharem uma grande posição no seu mercado e confirmou, este mês, que cobraria direitos anti-dumping provisórios sobre algumas importações de plástico da China, depois de fabricantes de materiais utilizados em garrafas e embalagens terem afirmado que estavam sendo expulsos do mercado.
A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, se queixou esta semana de que o dumping chinês "distorce o nosso mercado" e que uma cúpula de Pequim com o presidente Xi Jinping, nos dias 7 e 8 de dezembro, deverá produzir resultados. "A China é capaz de mudar", disse ela.
Nos últimos três anos, a UE deixou de depender apenas das ferramentas tradicionais da Organização Mundial do Comércio (OMC) para travar combates comerciais e se equipou com vários novos instrumentos que incluem, por exemplo, a anti-coerção e o boicote a determinadas exportações aliadas ao ajustamento de condicionantes.
Agora, a UE também pode bloquear o investimento de empresas financiadas por governos estrangeiros e excluir empresas de contratos públicos se o seu próprio mercado interno estiver fechado aos licitantes do bloco.
Atualmente, a maior preocupação de Bruxelas é a sua competitividade. Os países-membros estão preocupados com o aumento do défice comercial — que duplicou em 2022 para quase € 400 bilhões (cerca de R$ 2,1 trilhões), impulsionado em parte pelo conflito ucraniano após o estabelecimento de diversas rodadas de sanções ao setor de energia russo.
Os membros da UE também estão preocupados com o domínio da China nas cadeias de abastecimento verdes, especialmente nas matérias-primas críticas necessárias para baterias de automóveis elétricos e sistemas de energia solar e eólica. A disputa de mercado fez com que Pequim restringisse recentemente as exportações de germânio, gálio e grafite, o que os governos ocidentais consideraram como uma resposta aos controles de chips.
Este mês, o Ministério do Comércio disse que abordaria muitas queixas apresentadas pela Câmara Europeia de Comércio na China, que recentemente fez mais de 1.000 recomendações apoiadas por comissões para melhorar o tratamento das empresas com investimento estrangeiro.