Panorama internacional

Lula reafirma querer fechar acordo UE-Mercosul ainda neste ano; Europa lança dúvidas sobre Argentina

Segundo a vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Mercosul, a chegada de Milei na presidência "terá impacto porque nem ele nem ninguém de sua equipe acreditam no multilateralismo como uma ferramenta para resolver desafios comuns, nem na Europa nem na América Latina".
Sputnik
Nesta terça-feira (21), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em entrevista ao programa Conversa com o Presidente, que relatou à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ontem (20), seu intuito de fechar os termos do acordo entre União Europeia e Mercosul ainda durante a presidência brasileira do bloco sul-americano.

"Ontem [20] liguei para a Ursula von der Leyen, que é a presidente da Comissão Europeia, para dizer para ela que eu estou querendo negociar o Mercosul ainda na minha presidência e que eu gostaria que a gente conseguisse fazer o acordo. […] Eu passei todos os pontos nervosos para ela. Ela ficou de me dar uma resposta. Eu coloquei o [chanceler] Mauro Vieira para conversar com o chefe de gabinete dela, para ver quais são os pontos mais problemáticos, e ela ficou de tentar, quem sabe, lá na COP28, fazer uma reunião comigo e apresentar a resposta definitiva deles sobre a nossa demanda", disse Lula ao jornalista Marcos Uchôa.

No entanto, eurodeputados reagiram à vitória de Javier Milei na Argentina e disseram que sua eleição afetará o andamento das negociações do tão esperado acordo comercial entre o Mercosul e o bloco europeu.
Para a eurodeputada e vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Mercosul, Mónica González, a chegada do economista ultraliberal "terá impacto porque nem ele nem ninguém de sua equipe acreditam no multilateralismo como uma ferramenta para resolver desafios comuns, nem na Europa nem na América Latina".
Panorama internacional
UE reconhece eleições argentinas e chama negociações UE-Mercosul de 'extremamente' focadas
Para a legisladora espanhola, a União Europeia (UE) terá que encontrar uma forma de continuar seus programas na Argentina, como os relacionados à questão ambiental ou de gênero.

"Os programas tradicionais de cooperação na Argentina são mais necessários do que nunca", observou, considerando que durante o governo de Milei "vamos precisar apoiar e defender as ONGs argentinas", segundo o jornal O Globo.

A eurodeputada portuguesa Maria Manuel Leitão Marques analisou que "se levarmos em consideração a retórica da campanha de Milei, deveríamos estar muito preocupados, porque não só o acordo com a UE, mas a própria aliança do Mercosul tem sido questionada".

"Se [a retórica de Milei se] confirmar em ações e se transformar em uma política, poderá colocar em risco não só o acordo da UE com o Mercosul, mas também o bom relacionamento do país com a União Europeia. […] [É necessário] defender o apoio da UE às organizações da sociedade civil que lutam pelos direitos humanos, incluindo os direitos das mulheres", disse Leitão Marques.

Durante discursos ao longo de sua campanha, Milei deixou claro que não priorizará em seu governo alguns dos organismos dos quais a Argentina faz ou fará parte, como o Mercosul e o BRICS.
A UE e os países do Mercosul anunciaram o fim bem-sucedido do diálogo para o acordo comercial em 2019, mas o processo de ratificação rapidamente se estagnou por desentendimentos com o governo do então presidente Jair Bolsonaro, no Brasil, e, principalmente, pelas novas exigências europeias sobre questões ambientais, entre outras.
Comentar