Em outubro, 21 metralhadoras do Exército Brasileiro foram roubadas de uma unidade da força localizada em Barueri, na Grande São Paulo. O caso teve forte repercussão e chamou atenção para o histórico recente de armas e munições roubadas da força no país.
De acordo com um levantamento feito pelo jornal O Globo através de dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, o Exército registrou 48 ocorrências de desvio de armamentos ou munições até outubro, uma média de quase cinco por mês. O número já é o maior dos últimos dez anos e evidencia que o furto ocorrido em outubro não foi um caso isolado.
Ainda segundo a mídia, o arsenal roubado ou furtado de quartéis apenas neste ano soma pelo menos 460 munições, três pistolas, 21 metralhadoras e dois fuzis. Os registros estão espalhados por sete das 12 regiões militares do país. A maior quantidade foi levada em São Paulo.
Os dados também mostram que mais de 26,4 mil munições foram furtadas de instalações militares nos últimos dez anos, sendo esse o material bélico mais extraviado do Exército. Ente as armas, a maioria são as de grosso calibre como fuzis, metralhadoras e espingardas, que têm uso restrito pelas forças de segurança.
O coordenador de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, David Marques, apontou que o processo de seleção do Exército acaba por propiciar a entrada de jovens não comprometidos com a disciplina requerida, o que representa uma vulnerabilidade.
"Eles passam pelo serviço obrigatório, recebem um treinamento militar mínimo, conhecem um pouco mais das estruturas e isso pode, de certa forma, gerar um conjunto de vulnerabilidades, justamente porque eles passam a conhecer como funciona. Depois de não se engajarem, podem levar essa informação adiante ou eles mesmo realizarem os roubos e furtos", analisou o coordenador ouvido pela mídia.
Ao mesmo tempo, a diretora do Instituto Igarapé, Melina Risso, destaca que os furtos e roubos em arsenais das Forças Armadas são uma das grandes fontes de abastecimento de armas do crime organizado no Brasil: "A falta de controle de armazéns do Exército gera essas ocorrências que abastem o arsenal do crime", afirmou.
Em relação ao caso do arsenal de guerra de Barueri, com a ajuda das policiais paulistas e fluminense, a força conseguiu recuperar, um mês após o crime, 19 das armas. Duas ainda estão desaparecidas.
Ao jornal, o Exército informou que todas as ocorrências são investigadas, "cabendo a abertura de inquérito policial militar para aquelas que apresentam indícios de crime e processo de apuração de transgressão disciplinar para os outros casos", acrescentando que "os militares cuja investigação concluir que cometeram crimes ou transgressões disciplinares são punidos com rigor, na forma da lei".
A mídia relata que também pediu dados de furto e roubos de armas e munições em instalações da Marinha e da Aeronáutica, mas as duas forças não forneceram as informações.