À imprensa ocidental, o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, reclamou que as entregas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de projéteis de 155 mm
diminuíram desde o início do conflito entre Israel e o Hamas.
Publicações dos Estados Unidos
citam autoridades ucranianas dizendo que o fornecimento de projéteis de artilharia despencou recentemente "em mais de 30%". Por outro lado, os responsáveis pela defesa dos Estados Unidos sustentam que a redução nas entregas de munição não tem "absolutamente nada a ver com o que está
acontecendo em Gaza".
"Na verdade, há uma diminuição acentuada na intensidade do fogo [na zona de conflito]", disse à Sputnik Anatoly Matviychuk, especialista militar e coronel reformado, com experiência em operações de combate no Afeganistão e na Síria.
"Afinal, a Ucrânia não tem capacidade para produzir munições ocidentais. Agora eles têm um problema. Eles poderiam ter produzido projéteis soviéticos, mas suas capacidades industriais foram destruídas por ataques à infraestrutura [da Rússia]. Quero dizer, [Zelensky] realmente tem problemas com a intensidade do fogo", continuou.
Matviychuk detalhou que a Rússia utiliza atualmente cerca de 25 mil a 50 mil projéteis de vários calibres por dia. Os ucranianos respondem agora com apenas 7 mil a 11 mil projéteis, segundo o especialista.
Em vez disso, concentraram-se mais em atividades terroristas, disparando contra civis. O coronel reformado observou que, embora os militares ucranianos continuem a bombardear intensamente áreas residenciais de Donbass, sua atividade na frente tem diminuído constantemente.
"E ele não tem superioridade aérea", continuou o coronel aposentado. Segundo ele, o poder de fogo da artilharia [da Ucrânia] e das armas de longo alcance fornecidas pelo Reino Unido, pelos Estados Unidos e pela Alemanha tem diminuído.
Para complicar ainda mais a situação, os fundos ucranianos anteriormente destinados por Washington com a aprovação do Congresso já estão relativamente esgotados, é o que pontua o coronel.
O mais recente pacote de ajuda militar dos Estados Unidos, de US$ 100 milhões (equivalente a R$ 480 milhões), anunciado pelo secretário de Defesa Lloyd Austin durante a sua recente visita a Kiev, provém do fundo existente. Entretanto, os congressistas republicanos se opõem a um novo pacote de ajuda de US$ 61 bilhões (R$ 293 bilhões) para a Ucrânia, solicitado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
No início de novembro, a Câmara dos Representantes, controlada pelo Partido Republicano, aprovou um projeto de lei elaborado pelos republicanos para fornecer US$ 14,3 bilhões (R$ 68,6 bilhões) em ajuda militar a Israel, deixando de fora a Ucrânia. Mais tarde, o Senado dos Estados Unidos bloqueou a iniciativa numa tentativa de forçar o Partido Republicano a considerar um pacote combinado de ajuda israelense-ucraniana.
Na semana passada, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, admitiu que é pouco provável que a União Europeia (UE) cumpra seu objetivo anual de enviar um milhão de projéteis de artilharia para a Ucrânia até março próximo. Entretanto, a verdade é que a Ucrânia tem consumido munições mais rapidamente do que os Estados Unidos e seus aliados da OTAN conseguem produzi-las.
Segundo Matviychuk, o esgotamento dos arsenais militares da UE é apenas parte do problema: os europeus têm dúvidas se devem fornecer mais munições e dinheiro à Ucrânia.