A primeira matéria, reportada pelo jornal alemão Bild, alertou para a existências de um plano dos EUA e da Alemanha para forçar que o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, perceba sua incapacidade de vencer o conflito".
De acordo com o jornal, as nações querem reduzir o envio de armas à Ucrânia para um nível em que a nação eslava consiga manter os territórios atuais, mas não possa fazer progressos. Ainda existe um plano B considerado pelos líderes ocidentais, de congelar o conflito, encerrando as hostilidades e mantendo as fronteiras como estão atualmente, mas sem uma declaração paz.
A segunda foi uma entrevista televisiva de David Arakhamia, líder do Servo do Povo, próprio partido de Zelensky, revelando que a Rússia propôs o fim das hostilidades no início de 2022 com a condição de que a Ucrânia se recusasse a entrar na OTAN, mas Kiev se recusou a aceitar.
"Estas reportagens devem ser vista em um contexto temporal específico", afirmou à Sputnik Dmitry Evstafiev, cientista político e professor da Universidade da Escola Secundária de Economia (HSE). "Elas são um golpe publicitário. Apareceram na mídia logo após uma reunião do notório grupo Ramstein, que tomou a decisão essencial de criar uma coalizão de Defesa Aérea [baseada no solo] para fortalecer a região", disse.
"É bastante óbvio que vão fortalecer não a defesa área da Ucrânia, mas a dos países que fazem fronteira com a Ucrânia. Esta é uma das primeiras medidas tomadas que apontam para novas políticas que indicam que a Ucrânia está pronta para negociações de paz."
Para Evstafiev, o apoio ocidental à Ucrânia está se tornando muito custoso, tanto financeiro quanto politicamente, principalmente para os seus principais parceiros, a Alemanha e os Estados Unidos. "Portanto, o primeiro ponto é que o apoio a Kiev tornou-se tóxico."
"Os Estados Unidos já quase suspenderam a ajuda [à Ucrânia]. É claro que ainda haverá uma reavaliação através do Pentágono, mas já não se pode esperar grandes pacotes. A assistência da União Europeia terá como objetivo em grande parte manter a funcionalidade do sistema de administração pública e algum tipo de apoio social, mas não tanto para o apoio militar", afirmou
24 de novembro 2023, 18:53
O segundo ponto, destaca o especialista, é que está cada vez mais visível nas declarações de fontes ocidentais que Kiev está em seu último momento em que "pode reivindicar termos mais ou menos aceitáveis de uma trégua com Moscou".
O terceiro é que a Rússia "concordará com qualquer condição inicial para essas negociações".
Ainda assim, Evstafiev acredita que o Ocidente não vai perder mais tempo para convencer Zelensky a iniciar as conversas com Moscou. Para ele, os sinais são claros ou o líder ucraniano se junta à Rússia na mesa de negociações, ou seu sucessor o fará.
Por que o Ocidente começou a falar de paz?
O Ocidente "precisa de uma pessoa disposta a ganhar tempo em troca de território", disse Evstafiev. Alguém capaz de estabilizar a Ucrânia, realizar reformas e aliviar a pressão sobre os próprios ucranianos, "porque o regime de Zelensky apertou os parafusos em termos de liberdades políticas e religiosas muito mais profundamente do que é aceitável para os americanos e alemães".
Embora alguns decisores políticos ocidentais aparentemente vejam o chefe do Exército ucraniano, general Valery Zaluzhny, como um possível líder para o país, o problema é que é pouco provável que ele desista das ambições de retomar as regiões de Zaporozhie e Kherson, segundo Evstafiev. Ambas as regiões votaram em referendos locais para aderir à Rússia e tornaram-se oficialmente os novos territórios da Rússia a partir de setembro de 2022.
Dado que a linha dura da liderança civil e militar ucraniana ainda é forte, o Ocidente tem um número limitado de opções. Daí o plano B, um "conflito congelado", citado pelo jornal alemão.
"Todas estas negociações são apenas uma tentativa de ganhar tempo para estabilizar a situação interna no território agora controlado pelo regime de Kiev. Na minha opinião, é preciso prestar atenção a isto", destacou Evstafiev.
"O que mais assusta os ocidentais não é sequer a derrota na front de batalha. Acima de tudo, os ocidentais, e penso que eles têm uma ideia adequada do que está acontecendo na retaguarda [da Ucrânia], estão assustados com a possibilidade de um colapso rápido e catastrófico do sistema de administração pública ucraniano."
"É por isso que eles estão exercendo tanta pressão, eu poderia dizer, um tanto histericamente, para congelar a situação e tentar restaurar de alguma forma a estabilidade interna", concluiu Evstafiev.