Constituição, bandeira, Banco Central, passaporte, emblema e uma população de "2 milhões de hindus praticantes". Assim é apresentado os Estados Unidos de Kailasa em seu site oficial, que à primeira vista surpreende por ser pouco conhecido na geopolítica mundial, mesmo com um razoável número de habitantes. Porém, tudo não passa de uma mentira.
O território estaria localizado em uma ilha comprada do Equador por Nithyananda Paramashivam, autoproclamado guru hindu, que afirma ter fundado Kailasa em 2019, o que é negado por Quito.
Mesmo assim, o país que não existe chegou a firmar um acordo de cooperação com o Paraguai no dia 17 de outubro.
No texto, assinado pelo chefe de gabinete do Ministério da Agricultura e Pecuária paraguaio, Arnaldo Chamorro, Kailasa se prontificou a ajudar o Paraguai em vários projetos e, em troca, a nação sul-americana estabeleceria relações diplomáticas e apoiaria a admissão do falso país como um Estado soberano na ONU.
Diante do "incidente" diplomático, o governo do presidente Santiago Peña, que tomou posse há apenas três meses, decidiu demitir o alto funcionário.
Chamorro disse à mídia local que representantes de Kailasa "expuseram a intenção de ajudar" o Paraguai e, por isso, fechou o acordo, mesmo sem ter nenhuma ideia sobre a história do "país" e até a sua localização. O nome remete a uma montanha do Himalaia, onde a religião hindu considera residir o deus Shiva.
O caso no Paraguai lembrou outro episódio embaraçoso para o país, quando o então presidente Mario Abdo Benítez se reuniu com um falso CEO da fabricante automobilística Lamborghini, o empresário Jorge Fernández, que até tentou registrar a marca Lamborghini Latin America no país.
'Estados Unidos de Kailasa' e a aparição na ONU
Os Estados Unidos de Kailasa também já criaram situações embaraçosas até para a ONU, quando pessoas que diziam representar o falso país participaram de duas sessões da entidade em Genebra.
No primeiro episódio, "autoridades" kailasianas se infiltraram na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW, na sigla em inglês), em fevereiro deste ano. Dois dias depois, foi a vez de supostos diplomatas marcarem presença em um fórum sobre desenvolvimento sustentável.
Uma mulher que se apresentou como Vijayapriya Nithyananda, embaixadora permanente de Kailasa, chegou a fazer perguntas sobre direitos indígenas e ainda alegou que o "país" tem alto comprometimento com o desenvolvimento sustentável por dar alimentação, moradia e saúde gratuita a todos os moradores.
Fundador foi preso por abuso sexual
Suposto fundador de Kailasa, Nithyananda Paramashivam foi preso na Índia em 2010 após ser denunciado por abusos sexuais, quando foi detido, e na sequência pagou fiança, além de ter sido acusado pela Justiça em 2018 por conta do crime.
O autoproclamado guru ainda é alvo de uma denúncia de sequestro e confinamento de crianças em seu mosteiro, em Gujarat, na Índia.
Também no começo deste ano, o falso país teria assinado outro acordo, dessa vez com autoridades da cidade americana de Denver, o que, segundo Nithyananda, seria um reconhecimento da sua existência.