Segundo o Financial Times (FT), as disputas sobre o orçamento conjunto da União Europeia (UE) podem deixar a Ucrânia sem os € 50 bilhões (cerca de R$ 265,9 bilhões) prometidos pelo bloco. O acordo está sendo dificultado pela vitória da extrema direita nas eleições holandesas no mês passado e por uma crise orçamentária na Alemanha resultante de uma decisão judicial sobre fundos destinados ao combate à pandemia de COVID-19 não utilizados.
Antes da cúpula em Bruxelas, em menos de duas semanas, na qual serão discutidos o orçamento de longo prazo da UE, bem como o apoio à Ucrânia, os 27 Estados do bloco estão "longe de chegar a um acordo", disse o FT, citando autoridades não identificadas.
Uma fonte dentre os representantes da UE chegou a dizer que "é a hora da verdade", salientando que "se você diz que apoia a Ucrânia, você tem que assumir a responsabilidade". Ao mesmo tempo, outro responsável teria dito que um acordo sobre o orçamento do bloco seria "muito, muito difícil".
Ainda na quinta-feira (30), o comissário do orçamento da UE, Johannes Hahn, disse que a Alemanha está atualmente "tão distraída com as suas questões internas que não encontra tempo para lidar com [as questões orçamentárias da UE]". Alguns dias antes, porém, o chanceler alemão, Olaf Scholz, tinha dito que "não devemos deixar enfraquecer o nosso apoio à Ucrânia", mesmo quando o seu país enfrenta uma crise energética.
As eleições holandesas no mês passado terminaram com uma vitória inesperada para o Partido da Liberdade (PVV), de extrema direita, que, entre outras coisas, apela à suspensão do apoio militar e financeiro à Ucrânia e não apoia as sanções da UE à Rússia.
Na sexta-feira (1º), o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, que apelou repetidamente a um cessar-fogo e a negociações de paz na Ucrânia, disse que a UE deveria primeiro assinar um acordo de parceria estratégica de cinco a dez anos com Kiev, em vez de iniciar conversações de adesão. Anteriormente, ele bloqueou um pacote de ajuda da UE de € 50 bilhões à Ucrânia, dizendo que a estratégia do bloco sobre o conflito tinha "fracassado".
A posição da Hungria sobre as exigências de Kiev à UE pode desencadear uma "crise política" na cúpula de 14 de dezembro em Bruxelas, informou o Politico na semana passada.
Desde o início de junho, a Ucrânia tem travado uma contraofensiva contra a Rússia, mas ainda não conseguiu quaisquer resultados significativos. De acordo com o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, no início de dezembro, Kiev perdeu mais de 125 mil militares e 16 mil unidades de armamento pesado.
Durante uma cúpula extraordinária do G20 (grupo formado pelas maiores economias do mundo mais União Europeia e União Africana) no mês passado, o presidente russo Vladimir Putin disse que Moscou nunca recusou conversações de paz com Kiev.