De acordo com o The Wall Street Journal, Israel montou um sistema de grandes bombas que poderia usar para inundar a rede de túneis do Hamas na Faixa de Gaza com água do mar, uma tática que poderia destruir os túneis e expulsar os combatentes do seu refúgio subterrâneo, mas também ameaçar o abastecimento de água de Gaza, segundo autoridades dos EUA.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) terminaram a montagem de grandes bombas de água do mar, cerca de um quilômetro e meio ao norte do campo de refugiados de Al-Shati, em meados do mês passado, quando informou Washington sobre sua viabilidade. Cada uma das pelo menos cinco bombas pode extrair água do mar Mediterrâneo e movimentar milhares de metros cúbicos de água por hora para os túneis, inundando-os em semanas.
Autoridades dos EUA disseram não saber o quão perto o governo israelense estava de executar o plano, e até onde se sabe, uma decisão definitiva a esse respeito ainda é desconhecida.
Até agora, os israelenses identificaram cerca de 800 túneis, embora reconheçam que a rede é maior do que isso.
O processo de inundação dos túneis, que duraria semanas, permitiria que combatentes do Hamas, e potencialmente reféns, saíssem, disse uma pessoa em anonimato familiarizada com o plano. Não está claro, no entanto, se Israel sequer consideraria a utilização das bombas antes de todos os reféns serem libertados de Gaza.
"Não temos certeza do sucesso do bombeamento, já que ninguém conhece os detalhes dos túneis e do terreno ao seu redor", disse a fonte à mídia. "É impossível saber se isso será eficaz porque não sabemos como a água do mar será drenada em túneis onde ninguém esteve antes."
Após arrasar bairros inteiros e deslocar mais de um milhão de habitantes em Gaza, o plano de inundar os túneis ilustra o equilíbrio que as FDI devem estabelecer entre a prossecução dos seus objetivos de guerra e a intensa pressão internacional que enfrentam para proteger os civis.
Mas autoridades norte-americanas sugerem que o sistema drástico de fornecimento de água potável em Gaza — através das estações de purificação recentemente desativadas — possa ser extremamente prejudicado caso Israel leve seu plano adiante.
No seu auge, o sistema fornecia 83 litros de água por pessoa por dia. Agora os palestinos não recebem mais do que três litros por dia, segundo as Nações Unidas. A ONU diz que o mínimo deveria ser de 15 litros por dia.
De acordo com o vice-presidente sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, Jon Alterman, é difícil prever os efeitos da inundação dos túneis.
"É difícil dizer o que o bombeamento da água do mar fará com a infraestrutura existente de água e esgoto. É difícil dizer o que isso fará com as reservas de águas subterrâneas. E é difícil dizer o impacto na estabilidade dos edifícios próximos", disse Alterman.
O especialista da organização de paz com sede nos Países Baixos, a PAX, Wim Zwijnenburg, alegou que as inundações podem afetar o solo já poluído de Gaza e as substâncias perigosas armazenadas nos túneis podem se infiltrar no solo, e assumindo que cerca de um terço da rede de túneis já está danificado, Israel teria de bombear cerca de um milhão de metros cúbicos de água do mar para desativar o restante.
Em 2015, o Egito utilizou água do mar para inundar túneis operados por contrabandistas sob a passagem fronteiriça de Rafah com Gaza, o que suscitou queixas de agricultores próximos sobre colheitas danificadas.