Conforme publicou o portal Uol, a Casa Branca, preocupada com a situação na América do Sul, considera o Brasil um ator "adequado" para atuar diplomaticamente e evitar uma possível escalada militar.
Segundo o alto escalão do Executivo brasileiro, as conversas entre americanos e brasileiros têm ocorrido de forma constante nos últimos dias. A administração Biden expressa inquietação com a situação, mas reconhece limitações para lidar diretamente com a crise neste momento.
Os EUA veem o governo brasileiro, especialmente pela figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), numa posição privilegiada para promover o diálogo. O Brasil ofereceu, inclusive, a capital brasileira como sede para possíveis conversas entre as partes envolvidas.
7 de dezembro 2023, 18:53
A crise na região envolve dois focos principais. Na Venezuela, os EUA alertam o presidente Nicolás Maduro sobre as consequências de seus planos, indicando que a retirada das sanções internacionais e o avanço nas negociações com a oposição seriam comprometidos.
Na Guiana, o recado é para que o governo local não endureça seu discurso, mesmo contando com o apoio diplomático, militar e político americano.
Maduro desconsiderou a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ao prosseguir com uma votação para reconhecimento do território como parte da Venezuela, alegando amplo apoio popular ao seu plano. Os estadunidenses alegam tentar evitar mais uma área de tensão territorial, considerando as atuais crises na Ucrânia e em Gaza.
No entanto, o governo Biden enfrenta desafios domésticos, incluindo a proximidade das eleições americanas e a necessidade de conquistar o voto dos latinos. Há também a preocupação de uma crise na região ser usada politicamente por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, que se mobiliza para disputar as próximas eleições.
Diante do pedido americano, o Brasil, representado pelo chanceler Mauro Vieira, o assessor especial Celso Amorim, além do próprio Lula, optou por assumir a responsabilidade por uma intermediação sul-americana por meio da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).
O órgão é presidido neste momento pelo primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Everard Gonsalves, país caribenho que teria espaço para diálogo com a Guiana e com Maduro.
A estratégia de envolver instituições latino-americanas busca evitar um eventual repúdio por parte do líder venezuelano, que poderia interpretar a intervenção como ingerência externa. Alegando cooperação internacional, as Forças Armadas dos EUA anunciaram ontem (7) uma operação conjunta com o Exército da Guiana em Essequibo, o que foi criticado pelo governo da Venezuela.
Vale ressaltar que a crise será discutida pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), mas há a percepção de que dificilmente o órgão conseguirá dar uma resposta imediata para o problema.
Rússia pede contenção das partes
Nesta sexta-feira (8), a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que Moscou "está monitorando de perto a situação na região de Essequibo, inclusive levando em consideração o referendo consultivo sobre o status desse território realizado na Venezuela em 3 de dezembro e as medidas legais tomadas após seus resultados".
"O plano das relações entre a Venezuela e a Guiana deve ser resolvido pautado na boa vizinhança, encontrando soluções pacíficas mutuamente aceitáveis, de acordo com o direito internacional e os acordos assinados entre as partes, bem como a legislação nacional vigente", disse Zakharova.
A representante disse ainda que a Rússia considera a redução das tensões na região uma prioridade.
"Na situação atual, consideramos uma prioridade reduzir as tensões e fortalecer a confiança nas relações entre Venezuela e Guiana. Instamos as partes a se absterem de quaisquer ações que possam desequilibrar a situação e causar danos mútuos", acrescentou.