Quem poderia instalar um equipamento de espionagem no gabinete do alto comandante da Ucrânia?

O SBU supostamente encontrou dispositivos de escuta durante uma inspeção nas instalações que seriam destinadas a Zaluzhny. A agência lançou uma investigação criminal após a descoberta.

Comentando o assunto, Zaluzhny especificou que o local onde os dispositivos foram encontrados não era utilizado havia muito tempo. "Esta é a sala que eu deveria usar hoje", disse o general a repórteres nesta segunda-feira (18).

"Pode haver várias versões", disse Vladimir Oleinik, político ucraniano e ex-deputado do Verkhovna Rada (Parlamento ucraniano), à Sputnik. "Em primeiro lugar, todos sabem que Zaluzhny é um concorrente político do [Vladimir] Zelensky [presidente ucraniano]. A classificação de Zaluzhny […] é duas vezes mais elevada, algo em torno de 75%, e a de Zelensky é de 32%", explicou.

Segundo Oleinik, quem instalou os dispositivos poderia ter sido o pessoal de Zelensky, tentando descobrir o que estava acontecendo no círculo imediato do general. Da mesma forma, poderia haver interesse em assuntos além dos militares, explicou ele. Muitos oficiais começaram a apoiar Zaluzhny recentemente, continuou o político, referindo-se em particular ao major-general Sergei Krivonos, antigo vice-secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional. Há pouco tempo ele criticou especialmente Zelensky e sua comitiva.

Da mesma forma, poderiam ter sido os serviços especiais russos, interessados no que está acontecendo nas instalações militares ucranianas, continuou o político.

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"Por outro lado, aqueles [equipamentos] poderiam ter sido do pessoal de Zaluzhny", disse o interlocutor da Sputnik. "Dispositivos de escuta telefônica foram descobertos no gabinete [do general] e na sala dos assistentes. É claro que isso poderia aumentar a classificação [de Zaluzhny]. […] Isso poderia criar uma imagem [de Zaluzhny] como alguém que é pressionado, perseguido."

Segundo Oleinik, existem duas agências de inteligência que poderiam estar por trás do incidente. Uma é o SBU, subordinada a Zelensky; a outra é a Direção Principal de Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia, chefiada por Kirill Budanov.

O político ucraniano explicou que Budanov não está subordinado ao chefe do Estado-Maior, mas sim ao Ministério da Defesa, ou seja, um departamento político chefiado por um funcionário civil. Atualmente o ministério é presidido por Rustem Umerov. Oleinik não exclui que a Direção Principal de Inteligência possa levar a cabo conspirações políticas, especialmente tendo em conta que anteriormente esteve envolvida em escutas telefônicas de agências anticorrupção controladas pelos EUA.

O que está por trás do 'timing'?

Zaluzhny está sendo cada vez mais responsabilizado pelo presidente Zelensky e por sua comitiva pela contraofensiva fracassada, segundo Oleinik. Sem nomear Zaluzhny, Zelensky alertou os generais ucranianos contra a interferência na política do país. No final de novembro, a publicação The Economist afirmou que as relações entre Zelensky e Zaluzhny eram "terríveis".

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Além disso, no mês passado a deputada Mariana Bezuglaya, do partido Servo do Povo, de Zelensky, acusou Zaluzhny da confusão que se desenrolava, bem como de não ter oferecido uma "visão estratégica para 2024". Bezuglaya chegou ao ponto de propor a demissão do comandante superior, observou Oleinik.

Nessas circunstâncias, a descoberta do equipamento de escuta poderia fazer o jogo de Zaluzhny e torná-lo um herói de guerra injustamente perseguido aos olhos dos ucranianos. Oleinik lembrou que antes da descoberta dos dispositivos de espionagem, Gennady Chastyakov, assessor próximo de Zaluzhny, foi morto de forma suspeita por uma explosão de granada, no início de novembro, após a publicação de um artigo do general sobre o fracasso da contraofensiva.

"É possível que Zaluzhny tenha dado um sinal aos seus patronos ocidentais de que 'temos um problema aqui'", continuou Oleinik. "Se o ouvirem, os serviços de inteligência ocidentais certamente intervirão. Por quê? As conversas com os norte-americanos, com os generais da OTAN, e assim por diante, também poderiam ter sido alvo [da suposta espionagem]. Como regra, tais incidentes recebem atenção especial dos serviços de inteligência dos países ocidentais, a fim de evitar o vazamento de informações."

O governo Zelensky enfrenta cada vez mais pressão devido à diminuição do apoio financeiro e militar ocidental. A contraofensiva fracassada, bem como os problemas econômicos internos que ele parece ter, arrefeceram o entusiasmo belicoso do Ocidente.