"Que sinal daríamos a dezenas de países que, tal como a Rússia e também os países do G7 [grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido], por razões de segurança convertem as suas reservas em dólares e as confiam ao Tio Sam? Se os Estados Unidos fizerem isto hoje com a Rússia, se se apoderarem do dinheiro que a Rússia lhes confiou [...] amanhã ele poderá fazer o mesmo com qualquer outro país", disse Schiller ao jornal italiano La Repubblica.
O especialista acredita que a expropriação de ativos "destruirá a auréola de segurança que rodeia o dólar", sendo "o primeiro passo para a desdolarização". Como salienta Schiller, muitos países estão agora se inclinando para este lado, "da China aos países em desenvolvimento, para não falar da própria Rússia", e outros Estados também podem ser "tentados" a converter dólares em yuan "ou, por que não, em euros".
A utilização dos ativos da Rússia, advertiu, constituiria a primeira violação da regra inquebrável e levaria à destruição do cobertor de segurança construído em torno do dólar.
"Seria a primeira operação deste tipo na história e terá consequências catastróficas para o atual sistema em que o dólar domina", destacou.
A mídia norte-americana revelou que o presidente dos EUA, Joe Biden, iniciou conversações urgentes com parceiros dos EUA sobre a possibilidade de canalizar ativos russos congelados para fornecer assistência ao governo ucraniano e estaria pressionando o restante dos países do G7 a apresentar um plano até fevereiro de 2024.
Shiller alerta que há muitas variáveis que Biden deve analisar antes de tomar uma decisão deste tipo, já que, "paradoxalmente, poderia atingir os Estados Unidos e todo o bloco ocidental".
As nações do G7 e a União Europeia (UE) congelaram € 300 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão) das reservas da Rússia após o início da operação militar especial russa para impedir o bombardeio ucraniano de civis em Donetsk e Luhansk, em fevereiro de 2022.
O Ministério dos Relações Exteriores da Rússia descreveu o congelamento de ativos da UE como um roubo aos investidores privados russos e às instituições públicas do país.
O Ministério da Economia russo alertou para os riscos para os investimentos estrangeiros na UE e alertaram que os países-membros do bloco impõem restrições contra cidadãos e entidades russas, procuram confiscar bens congelados, nomear administradores externos nas subsidiárias das empresas russas privar ou restringir ilegalmente os direitos de propriedade de cidadãos e empresas.