Ainda assim, os Estados Unidos continuam insistindo em sucessivos pacotes de ajuda financeira e militar à Ucrânia, ao passo que algumas vozes tanto na União Europeia como em Washington já começam a se questionar se não seria a hora de iniciar negociações de paz com Moscou.
Isso porque a Rússia conseguiu resistir de forma eficiente aos ataques da contraofensiva ucraniana em praticamente toda a sua linha de defesa, frustrando assim as expectativas do Ocidente sobre as reais capacidades do Exército ucraniano.
De todo modo, é pouco provável que a Ucrânia fique completamente sem ajuda durante o próximo ano. No entanto, uma coisa é certa: a pressão sob Zelensky aumentará significativamente com o passar do tempo, tanto doméstica quanto externamente, dado que o "herói do Ocidente" e "protetor das democracias" não foi capaz de apresentar vitórias significativas no campo de batalha.
Obviamente, uma enorme quantidade de dinheiro já foi investida na Ucrânia no âmbito desse projeto ocidental de enfraquecer a Rússia no espaço pós-soviético, e esse dinheiro precisará voltar para o bolso dos investidores de alguma forma.
Não se trata de um projeto filantrópico, mas sim da boa e velha busca de lucros por parte de atores poderosos da indústria armamentista – especialmente americana – que usam o conflito na Ucrânia como forma de fechar contratos altamente vantajosos com o governo estadunidense.
Ao mesmo tempo, como derrotar a Rússia no campo de batalha é tarefa – para dizer o mínimo – improvável, continuar insistindo nisso apenas faz com que o conflito, que já dura quase dois anos, prolongue-se por tempo indeterminado.
Seja como for, uma coisa é certa, a experiência desta guerra-proxy do Ocidente contra Moscou mostrou que o Exército russo pode muito bem manter a defesa de seus territórios e, simultaneamente, inovar tecnologicamente em vários segmentos.
Do ponto de vista militar, por exemplo, o conflito adquiriu o caráter de uma verdadeira "guerra de drones" de ambos os lados. Tais dispositivos se mostraram capazes de atingir vários soldados e equipamentos de uma vez, além de servirem como peças de monitoramento da posição do adversário em campo.
Hoje, munições e explosivos podem ser acoplados a drones e diretamente utilizados contra o inimigo na linha de frente ou na retaguarda. A Rússia, no âmbito da tecnologia de drones, avançou significativamente desde meados de 2022.
O Exército russo vem utilizando drones de alto impacto (os chamados drones kamikaze), controlados por um operador em primeira pessoa, para destruir equipamentos pesados, como tanques e até mesmo pequenos grupamentos de soldados.
Atualmente, os russos vêm produzindo esses drones em grande escala, utilizando-os magistralmente como explosivos e na forma de projéteis. Tais drones, aliás, são capazes de localizar alvos atrás das linhas inimigas também no período noturno, o que é extremamente importante do ponto de vista militar.
Afinal, o Exército russo tem aproveitado a noite justamente para atingir por meio de drones unidades ucranianas em deslocamento da linha de frente para a retaguarda e vice-versa, além de abater tanques e outros equipamentos blindados fornecidos à Ucrânia pelo Ocidente.
Os russos, além do mais, também têm feito uso de drones do tipo Geran para atacar forças, aeródromos e infraestrutura crítica dos ucranianos em diversas partes do campo de batalha e retaguarda, prejudicando assim a iniciativa do adversário.
A Rússia, não obstante, avançou de forma significativa no que se refere à guerra radioeletrônica, que se baseia na emissão de ondas eletromagnéticas e de sinais que atrapalham o controle de drones pelo lado ucraniano. Como resultado, a tentativa de reconhecimento inimigo das posições russas por meio de drones tornou-se muito mais complicada do que antes.
Um homem segura um drone no primeiro centro educacional da Rússia para treinamento em operação de veículos aéreos não tripulados no Parque Industrial Rudnevo, em Moscou, Rússia, 5 de outubro de 2023
© Sputnik / Vladimir Astapkovich
No Exército russo, equipamentos militares para o combate radioeletrônico geram verdadeiras cúpulas de proteção para a linha de frente, capazes de cobrir diversos destacamentos de apoio e equipamentos vitais.
Logo, assim que um drone ucraniano – seja de reconhecimento, seja de ataque – voa para dentro desta cúpula, ele perde completamente o controle, deixando ir embora sua utilidade e função.
Por certo, embora as Forças Armadas ucranianas tenham se modernizado desde o início do conflito quanto ao uso de drones para a obtenção de objetivos militares, hoje elas enfrentam um adversário tecnologicamente mais poderoso, mais preparado e que – ainda por cima – joga a favor do tempo.
Outro fator importante a se levar em consideração é de que a Rússia depende fundamentalmente de si mesma e de sua própria produção doméstica no âmbito do conflito, o que não é o caso da Ucrânia. Se a ajuda militar e financeira ocidental a Kiev minguar de vez, mingua também o seu esforço de guerra e com ele qualquer esperança de que os ucranianos possam obter alguma vitória significativa que seja.
Para além de tudo isso, em termos logísticos as áreas que a Ucrânia tem tentado conquistar da Rússia apresentam desafios evidentes do ponto de vista militar. Trata-se de regiões – muitas delas – rodeadas de florestas ou então de áreas urbanas bastante densas, o que por si só dificulta o trabalho de operações ofensivas.
Pilotos de drones do batalhão de voluntários Sudoplatov participam de exercício em campo de treinamento durante a operação militar russa na Ucrânia, no território da região de Zaporozhie, que acessou a Rússia, 2 de novembro de 2023
© Sputnik / Pavel Lisitsyn
Nos grandes descampados, por sua vez, pequenos destacamentos de soldados ucranianos e seus tanques se tornam alvos fáceis para a artilharia russa e para seus drones kamikaze, elementos que, conforme já mencionado, vêm sendo utilizado de forma bastante eficiente pela Rússia, especialmente em 2023.
Em 2024, a Ucrânia contará ainda com dificuldades em reunir reservas suficientes para suas próximas operações ofensivas, que já em 2023 demonstraram sinais claros de esgotamento.
Se a situação continuar do jeito que está, restará a Zelensky, mesmo que a contragosto, retomar a possibilidade de negociação de um acordo de paz com os russos. Se o fizer, ele estará salvando milhares de vidas ucranianas.
Afinal, o Ocidente não se importa com essas vidas. Pelo contrário, para Washington e algumas capitais europeias, tudo e todos são descartáveis, se for para enfraquecer a Rússia no espaço pós-soviético.
2023 mostrou que esse projeto falhou, a Rússia não só termina mais forte como também vitoriosa nessa "guerra tecnológica" contra o Ocidente na Ucrânia.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.