Conforme a publicação, a mudança foi impulsionada após o início da operação militar especial russa, com as diversas sanções promovidas pelo Ocidente contra Moscou. Diante disso, países passaram a rever a dependência do dólar, que chegou a ser considerado uma moeda segura e distante de questões ideológicas. O motivo foi justamente o temor de que os Estados Unidos façam o mesmo com outros países.
É o caso do comércio de petróleo da Rússia, que passou a usar moedas como rublo, yuan e rúpia nas transações com a China e a Índia. "O dólar dos Estados Unidos enfrenta concorrência nos mercados de commodities", disse ao jornal Natasha Kaneva, chefe de estratégia global de commodities do banco JPMorgan, e, de acordo com seus dados, a proporção de petróleo mundial comprada e vendida em moedas alternativas aumentou para cerca de 20%.
O estabelecimento de limites de preços para a venda do petróleo russo, com o objetivo de privar o país de suas receitas com o combustível, levou Moscou a desenvolver canais financeiros alternativos. O efeito foi o contrário do esperado pelo Ocidente: aumento nas vendas em outras moedas.
A ideia de pagar em moeda nacional ainda despertou o interesse de outros países, como China e Irã, além de Brasil, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, que recentemente criaram medidas para comercializar petróleo e outros combustíveis sem o uso do dólar — a partir do próximo ano, os países se tornam parceiros no BRICS.
Os Emirados Árabes Unidos, que são aliados tradicionais dos norte-americanos no Oriente Médio, e a Índia assinaram um acordo para realizar o comércio em suas próprias moedas, enquanto o Brasil e a China concluíram seus primeiros acordos de commodities em moedas locais nos últimos meses.
"O controle da moeda mais importante ajudou os EUA a agirem como um guardião global, já que as ameaças de exclusão do sistema financeiro baseado no dólar tiveram um peso significativo. Se o domínio do dólar enfraquecesse, essa autoridade poderia ser afetada", explicou o WSJ.
Menor efeito de sanções encabeçadas pelos EUA
Apesar disso, especialistas apontam que o processo de desdolarização levará algum tempo. "No entanto, se isso [a rejeição ao dólar no comércio] continuar acontecendo, mesmo em menor escala, isso poderia significar que as sanções dos EUA e a ameaça de exclusão dos sistemas baseados no dólar teriam menos efeito", afirmou William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, empresa de pesquisa econômica.