A informação foi divulgada no site do banco nesta sexta-feira (5). A Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec), que presta serviços de apoio logístico, administrativo e gestão financeira aos projetos desenvolvidos pela Fiocruz, é responsável pela criação da nova vacina.
O investimento, oriundo do Fundo de Desenvolvimento Técnico Científico (BNDES Funtec), vai abranger desde a conclusão do desenvolvimento experimental do imunizante até a produção de lotes piloto para ensaios clínicos e a realização dos estudos clínicos.
Além do valor não reembolsável, o estudo receberá investimento de R$ 21 milhões captados de parceiros privados.
De acordo com a nota do BNDES, a expectativa da Fiocruz é de que a vacina esteja disponível no Sistema Único de Saúde daqui a três anos, e que o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos BioManguinhos/Fiocruz se transforme no principal centro para o desenvolvimento e produção de vacinas de RNAm na América Latina.
Tecnologia 'revolucionária'
A pesquisa utiliza a tecnologia RNA mensageiro (RNAm) que se mostrou muito eficaz contra a COVID-19 e potencialmente mais segura, rápida e eficaz para o desenvolvimento de novas vacinas e tratamentos.
Diferentemente das vacinas tradicionais, que utilizam vírus inativado (como a vacina da gripe) ou atenuado, as vacinas de RNAm fornecem uma "instrução" genética para o sistema imunológico produzir anticorpos, ao simularem o mesmo processo de exposição ao vírus, mas sem causar a doença. Logo, não precisa ser cultivado em laboratório.
"A principal vantagem da vacina de RNAm é produtiva. A vacina tradicional, de sarampo por exemplo, carrega o vírus vivo, só que mais fraco. Para obter o vírus enfraquecido, há exigência de um sistema produtivo mais caro e mais difícil, o que também demanda maior biossegurança para conter o agente", explicou a gerente de projeto da Fiocruz, Patrícia Cristina Neves, no informativo do BNDES.
Para o superintendente da Área de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, João Paulo Pieroni, a plataforma tecnológica desenvolvida pela Fiocruz torna o país "mais preparado para o enfrentamento de futuras emergências de saúde pública, com mais autonomia e mais celeridade no desenvolvimento de novas vacinas".
Ainda segundo o BNDES, os cientistas responsáveis pela pesquisa acreditam que, no futuro, o imunizante poderá ser utilizado contra raiva, influenza, zika, HIV, malária, tuberculose, citomegalovírus e vírus respiratório sincicial (bronquiolite) e em aplicações terapêuticas para tratamento de câncer, doenças genéticas raras, alergias e doenças autoimunes.
O coordenador-geral de captação de recursos da Fiocruz, Luis Donadio, afirmou que o domínio tecnológico para a produção é o "real valor agregado da vacina de RNAm". Segundo ele, Fiocruz e Organização Mundial da Saúde (OMS) têm um acordo para transferir a tecnologia para produção da vacina contra a COVID-19 para países da América Latina e Caribe.