Isso é o que diz a investigação conduzida pelo jornal israelense Yedioth Ahronoth, publicada na última sexta-feira (12). Em tese, o protocolo deveria ter sido extinto em 2016.
O "protocolo Hannibal", originalmente criado em 1986 após o sequestro de dois soldados israelenses pelo Hezbollah, foi mantido em sigilo por anos.
O objetivo era evitar a captura de soldados israelenses por tropas inimigas a qualquer custo, mesmo que isso implicasse na morte dos próprios militares sequestrados.
Segundo relatos, a diretiva teria sido aplicada em situações que envolviam cidadãos que não faziam parte do Exército israelense.
A investigação aponta falhas no sistema de comando, falta de comunicação e ordens para impedir o retorno de integrantes do Hamas à Faixa de Gaza "a qualquer custo", o que poderia ter sido interpretado como autorização para abrir fogo contra veículos, mesmo que civis estivessem presentes.
Embora o nome "Hannibal" não tenha sido explicitamente mencionado, a reportagem levanta dúvidas sobre a efetiva abolição do protocolo, desafiando as garantias do Exército de sua extinção oito anos atrás.
O Yedioth Ahronoth cita um incidente entre os assentamentos de Otaf e a Faixa de Gaza, onde cerca de 70 veículos foram alvejados em 7 de outubro, resultando em um ataque que teria matado mil combatentes palestinos, mas sem esclarecimentos sobre o número de reféns civis que podem ter sido vítimas.
Questionado sobre as alegações, o Exército de Israel destacou o atual contexto de guerra e prometeu uma investigação detalhada quando a situação operacional permitir.
Outro caso discutido na matéria envolve o kibutz de Be'eri, próximo à Faixa de Gaza, onde relatos indicam que militares israelenses teriam atacado uma casa, mesmo após serem informados sobre a presença de terroristas e reféns no local.
A estratégia, mantida em segredo por anos, foi alterada em 2016, mas as circunstâncias do seu uso recente estão sob intensa discussão.
O jornal Haaretz, em editorial, pediu investigação imediata sobre as ações do Exército, enfatizando a relevância das respostas para os familiares dos reféns e para o público em meio ao atual conflito, onde 136 reféns permanecem nas mãos do Hamas na Faixa de Gaza após 95 dias.
Qual o motivo do conflito entre israelenses e palestinos?
O conflito entre Israel e a Palestina tem sido uma fonte de tensão e de combates na região há muitas décadas. Uma decisão da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1947, determinou a criação de dois Estados, mas apenas o israelense foi criado.
No confronto mais recente, que começou em 7 de outubro, após ataques do Hamas ao território israelense, a Autoridade Nacional Palestina acusou Tel Aviv de usar fósforo branco na cidade de Gaza, a mais afetada pelo conflito.
Armas com esse tipo de substância, quando em contato com oxigênio, liberam um vapor branco que causa queimaduras sérias e podem até levar à morte. O uso é proibido em conflitos desde 1997.
Desde o ataque do grupo armado palestino, que resultou na morte de mais de 1,1 mil israelenses, as Forças de Defesa de Israel (FDI), em resposta, já mataram mais de 24 mil palestinos.
O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu responde a um processo movido pela África do Sul, com o apoio de países como o Brasil, na Corte Internacional de Justiça (CIJ), por crimes contra a humanidade.