"Grande parte da esquerda brasileira, e não só brasileira, lamentavelmente internacional, perdeu mesmo qualquer referência revolucionária, qualquer objetivo de longo prazo de ruptura com o capitalismo, com a ordem burguesa, com a transformação revolucionária, socialista, com exceção, repito, de um setor minoritário no campo da esquerda, no qual nos inserimos, nós, os comunistas do PCB."
"Lenin e a Revolução Russa introduziram no debate do mundo o tema da agenda social. A agenda social e também todas as conquistas do século XX — seja nos países socialistas, seja nos países capitalistas, como o estado de bem-estar social, os sistemas de previdência e todas as políticas redistributivas de renda no capitalismo — são efeitos da Revolução de Lenin. Na prática, na ação, Lenin foi determinante, por exemplo, para o funcionamento de todo o sistema de relações internacionais hoje consagrados na ONU [Organização das Nações Unidas], o princípio da autodeterminação dos povos, da não intervenção nos países, do respeito a essa soberania nacional de cada país. Isso é um legado leninista."
O que é o anticomunismo?
Pelo contrário, "ele cria uma representação para mobilizar as pessoas contra personagens, lideranças, intelectuais, lideranças partidárias, políticos, que não necessariamente são comunistas, mas que podem ter a sua imagem, digamos, prejudicada e ter a sua imagem vista numa chave negativa por sua associação com o comunismo e por defender algo que soe progressista ou […] mais à esquerda", pontua Chaloub.
"No nosso país, ser comunista, ser do PCB, sempre significou isto: se expor a todo tipo de perseguição", diz Muniz, reconhecendo que, atualmente, numa instância democrática, há salvaguardas mínimas asseguradas para quem quer fazer política no campo da oposição.
Por que o 'fantasma do comunismo' ainda assombra os brasileiros?
"Principalmente a partir de 2018, eu acho que foi um marco do retrocesso ideológico que a sociedade brasileira viveu", completa.
"Por um lado, as pessoas não têm condição de leitura, condição de compreensão. Isso eu não falo só da classe trabalhadora que ganha menor salário não, eu falo até da classe média. Há também gente que tem acesso à universidade, inclusive de classe alta, mas a ignorância política e cultural é muito grande no Brasil. Por outro lado, o controle de todos os meios de comunicação, de fusão da classe dominante, permite que essa antiga bandeira anticomunista, essa estigmatização do comunismo, seja reproduzida", sintetiza.