A fim de atingir seu primeiro objetivo na Europa foi que os Estados Unidos adotaram como diretriz de política externa impedir a aproximação entre Alemanha e Rússia nos anos 2000. Tal aproximação já era um dos principais medos do império britânico no começo do século XX, tornando-se posteriormente um temor para os próprios americanos a partir do final da Guerra Fria.
Se alemães e russos não podem se unir, a Europa é quem perde no final das contas, pois deixa de exercer a função de um ente político independente, subordinando-se à proteção e aos interesses de Washington.
No passado, antes da Segunda Guerra Mundial, a Europa não conseguira se unir, pois – historicamente - os ingleses temiam o poder da França, a França temia o poder da Alemanha e os alemães temiam o poder da Rússia.
Baseada nesses receios foi que a União Europeia – cujas origens institucionais datam da década de 1950 - foi estabelecida, com a missão justamente de evitar novas guerras no continente, o que, ao olharmos para os dias atuais, se mostrou uma esperança falha.
Novos conflitos e novas guerras voltaram a dar as caras no território europeu e tudo isso por uma razão bem simples, a saber, pelo continuado envolvimento americano no continente. Após a Segunda Guerra Mundial, Washington arrogou o papel de policial planetário, em especial policiando a própria Europa, e expandindo seu império global por meio da instalação de bases militares em diversas regiões e países.
Foi então que a defesa da hegemonia estadunidense no território europeu - por meio da expansão da OTAN para o Leste – tornou-se um dos fatores principais por trás da eclosão do conflito na Ucrânia.
Após seu início, os Estados Unidos e todo o seu "egossistema" financeiro internacional aplicou sanções draconianas à Rússia, que não só acabou resistindo à agressão ocidental como também fortaleceu seus laços com potências como China e Índia.
Hoje, mais do que nunca, o Ocidente – parte integral do "egossistema" americano – encontra-se isolado ideologicamente, tanto em seu fútil senso de superioridade perante outras civilizações como em seu niilismo materialista e disforme.
A Europa, nesse meio tempo, optou por se desfazer totalmente de sua soberania, enquanto atores como Rússia, China e Irã (e demais países pertencentes aos BRICS) pelo contrário, encontram-se focados em definir de forma independente suas políticas externas.
Ao passo que esses processos ocorrem, testemunhamos a ampliação da influência de empresas multinacionais como Lockheed Martin, Boeing, BlackRock, Monsanto entre outras, que usam seu poderio militar e/ou econômico para controlar o destino de nações inteiras. Afinal, de quem é a Ucrânia hoje? A resposta pode estar bem diante de nossos olhos.
Afinal, foi a empresa BlackRock, multinacional americana especializada em investimentos, que detém um acordo com o governo Zelensky para a reconstrução da Ucrânia pós-conflito. Grandes corporações acionistas da BlackRock também assumiram o controle de matérias-primas, de importantes ramos da agricultura e de instalações energéticas ucranianas, fazendo do país um palco ideal para a satisfação de interesses econômicos estrangeiros.
Quem perde com tudo isso são os cidadãos ucranianos comuns, enganados pelo projeto estadunidense de enfraquecimento da Rússia, e que agora precisam participar contra a vontade de uma guerra não pela independência da Ucrânia, mas sim pelos interesses geopolíticos dos Estados Unidos e da OTAN na Europa.
O conflito na Ucrânia, em resumo, trata-se de um sintoma trágico desse "egossistema" americano. A Rússia, por outro lado, tentou repetidamente resolver suas diferenças com o Ocidente a respeito da Ucrânia em termos diplomáticos, mas acabou ignorada tanto por americanos quanto pelos europeus. A principal meta de Washington era a de expandir a todo o custo a OTAN para o Leste, lançando assim a Europa no caos.
Ao mesmo tempo, bilhões de dólares são gastos pelos Estados Unidos para a manutenção do conflito no continente, beneficiando fabricantes de armas, assim como o complexo militar industrial americano. Como se não bastasse, é de se esperar que as instituições ocidentais – parte fundamental desse "egossistema" estadunidense – imponham no futuro um programa de austeridade extrema a Kiev, de modo a afetar sobretudo os mais pobres.
Em segundo lugar, para pagar sua dívida ao Ocidente, a Ucrânia não terá outra escolha a não ser colocar à venda o restante de seus ativos governamentais, em especial suas terras agrícolas. Afinal, parte dessas terras (em torno de 30% até o momento) já pertencem a empresas como Dupont, Cargill e Monsanto.
Para além do conflito no Leste Europeu, por sua vez, vemos a manifestação do "egossistema" americano em sua plena forma também no Oriente Médio, com a guerra de Israel em Gaza.
Desde outubro passado, os Estados Unidos têm apoiado indiscriminadamente seu "principal aliado" de longa data na região, independentemente da má repercussão internacional causada pelas ações do Exército israelense na Faixa de Gaza, vitimando dezenas de milhares de civis.
Os Estados Unidos continuam a entregar armas e fornecer suporte político e diplomático a Israel, prolongando mais esse conflito, ao invés de buscar uma solução de paz. Isso se dá porque fomentar guerras trata-se de uma das principais engrenagens de poder do "egossistema" americano.
Entretanto, ainda há uma luz no fim do túnel. Em meio a essa loucura toda, estamos nos encaminhando para um mundo multipolar capitaneado por potências que não mais desejam se acomodar a esse estado de coisas.
Com mais de 30 países manifestando interesse em cooperar de forma mais estreita com o BRICS, por exemplo, vemos sinais de que esse "egossistema" americano está chegando ao fim, e de que o futuro guarda dias mais promissores para as relações internacionais.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.