Panorama internacional

Negócios e laboratório: é assim que os EUA usariam Ucrânia para eventual confronto com Rússia

Os Estados Unidos e os seus aliados prolongam o conflito na Ucrânia porque usam aquele país como laboratório para testar as forças russas e, no processo, inflar os bolsos daqueles que lideram a fabricação de armas e a indústria bélica no Ocidente, alertam especialistas consultados pela Sputnik.
Sputnik
Na segunda-feira (22), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, declarou perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) que o Ocidente está pressionando a Ucrânia com "persistência maníaca" para continuar o confronto armado com a Rússia.
"Existe um mito de acreditar que, se a Ucrânia cair nas mãos da Rússia, haveria um [suposto] plano maligno da Rússia para dominar a Europa ou, pelo menos, o Leste Europeu. Essa tem sido a narrativa que tem sido usada no Ocidente e o motivo [que usam] para continuar apostando no armamento de Kiev", observa Humberto Morales, acadêmico e especialista em história russa da Benemérita Universidade Autônoma de Puebla.
"Esta retórica [do Ocidente] é uma justificação para continuar a testar armas e continuar a testar estratégias [na Ucrânia]. Acredito que é o laboratório do que poderá ser no futuro uma espécie de conflagração mais séria dirigida contra a Rússia", considera Morales.
"A Ucrânia é um laboratório de testes para ver até que ponto a Rússia é capaz de responder e de se defender e, com base nisso, avançar", acrescenta.
O especialista sustenta que em Washington e na União Europeia (UE) "não há vontade de paz" nem interesse em negociar. Ao contrário. Segundo ele, querem alimentar o conflito com o objetivo de desgastar economicamente Moscou, embora a economia russa tenha mostrado um fortalecimento inesperado, apesar das sanções ocidentais contra ela.
"A Ucrânia parece ser um local de teste para todos os tipos de armas, talvez até armas obsoletas ou armas que se suspeita não serem tão eficientes", observa Morales.
Além disso, o especialista considera que é provável que se tente rearmar os exércitos ocidentais com novos arsenais, especialmente o dos Estados Unidos, "com a ideia de testar armas com maior capacidade de dissuasão", já que Washington tem diversas frentes geopolíticas abertas no mundo, como o Oriente Médio e a Ásia-Pacífico com a Coreia do Norte e a China.
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O que mais acontecerá se a Ucrânia falhar?

A Casa Branca e Bruxelas tentam a todo custo evitar que as tropas ucranianas caiam nas mãos das forças russas porque, se perderem, todo o Ocidente enfrentaria o início de uma possível perda de influência e hegemonia em todo o mundo, resume Daniel Muñoz, mestre em Estudos Políticos Europeus pela Universidade de Salamanca.
"Se a Ucrânia cair, obviamente a estratégia da Europa e dos Estados Unidos para reduzir o poder russo na sua zona de influência cairá com eles", afirma o analista.
Da mesma forma, ele aponta outro aspecto fundamental do painel global: a produção de armas é a segunda maior indústria de exportação dos Estados Unidos, atrás apenas de Hollywood.
"Fomentar um conflito de grande escala, onde se gera o uso de armas muito sofisticadas, mas muito caras, é sem dúvida algo que os próprios lobbies armamentistas da União Americana incentivam para que o governo não recue na geração de um cessar-fogo", afirma Muñoz.
"Aqui existe, principalmente por parte dos Estados Unidos, e também por parte de outros países europeus, uma série de interesses apoiados por estes lobbies econômicos que tentam, de alguma forma, impedir que uma resolução pacífica do conflito seja alcançada", explica.
Segundo ele, a crise ucraniana é um conflito que, em termos econômicos, tem causado graves desequilíbrios e "grandes vítimas, humanamente falando". Ao mesmo tempo, diz ele, também levou a que grandes corporações de guerra enchessem os seus bolsos, "especialmente as ocidentais".
Nesse sentido, afirma que as grandes empresas de aluguel de mercenários também desempenham um papel importante e lucram com o conflito. Morales, por sua vez, considera que tudo faz parte de uma estratégia lógica de guerra de quem comanda o conflito no Ocidente: Washington.
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No seu discurso perante o mais alto órgão de decisão da ONU, Lavrov também destacou que a proposta de paz do governo ucraniano "está a caminho de lugar nenhum".
Morales sublinha que a proposta de Kiev não mudou desde o início da operação militar especial russa, pois o que pretende é que Moscou recue e "devolva a Crimeia", apesar de esse território ter sido incorporado à Federação da Rússia em 2014 de forma democrática e legítima.
"[Os governantes ucranianos acreditam] que a Rússia poderia se retirar, deixando a população russa à deriva em território ucraniano em condições de guerra. A Rússia obviamente não vai aceitar isso", considera Morales.
No entanto, diz ele, prevalece no Ocidente uma narrativa para que a Ucrânia continue procurando prolongar o conflito, que se baseia na falsa alegação de que a Rússia quer dominar toda a Ucrânia e até parte da Europa.
"Reviver a retórica da Guerra Fria, de uma espécie de nova Guerra Fria, me parece impedir uma negociação de curto prazo", conclui.
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