Panorama internacional

Brasil quer solução pacífica em Essequibo, mas interesses dos EUA tensionam região, diz pesquisador

A diplomacia brasileira tem buscado solução pacífica para a disputa pela região de Essequibo, enquanto interesses dos Estados Unidos podem aumentar a tensão na região.
Sputnik
Isso é o que explica o cientista político venezuelano da Universidade de Los Andes, Luis Javier Ruiz, em entrevista à Sputnik Brasil.
Nesta quinta-feira (25), os ministros das Relações Exteriores da Venezuela e Guiana prometeram um diálogo diplomático em relação à disputa territorial durante o segundo encontro entre as chancelarias e os corpos técnicos dos dois países em solo brasileiro.
O encontro representa a continuidade dos compromissos estabelecidos pelos presidentes Irfaan Ali (Guiana) e Nicolás Maduro (Venezuela) em dezembro, como parte da tentativa de reduzir as tensões na região, especialmente após o referendo venezuelano.
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Para Ruiz, esse segundo encontro delineia mais claramente os elementos técnicos a serem analisados no que diz respeito ao reclamo territorial de ambos os países.
Ele afirma que o contato direto entre os países estava interrompido desde 2017, quando a Guiana buscou a Corte Internacional de Justiça (CIJ) para verificar a legalidade do laudo arbitral de Paris, de 1899.
Ruiz destaca que o encontro tem dupla interpretação, indicando uma mudança na postura da Guiana ao reconhecer a necessidade de reviver o Acordo de Genebra de 1966, que reconhece a reinvindicação venezuelana sobre a Guiana Essequiba.
Para ele, a participação do Brasil no processo é crucial, visto que historicamente desempenha um papel importante na resolução de disputas territoriais na região, especialmente sob gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Historicamente, o Brasil tem sido um ator importante nesse contexto, e a atual liderança do presidente Lula, aliado de Maduro, contribui para o papel do Brasil como intermediário."

Quanto às expectativas para o desfecho das negociações, Ruiz espera que o encontro resulte na diminuição das tensões e evite um conflito militar.
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No entanto, ressalta a complexidade da situação, com as Forças Armadas de Guiana mantendo compromissos com os EUA, o que pode complicar o cenário.

"O Brasil, atuando como anfitrião e líder nas negociações, busca distensionar a situação e propor soluções diplomáticas, enquanto os Estados Unidos podem contribuir para aumentar a tensão devido aos seus interesses regionais e de segurança energética."

Além disso, segundo ele, a exploração de petróleo em águas disputadas pela Guiana pode complicar as negociações, especialmente devido aos interesses da ExxonMobil e à intervenção estadunidense.
"A esperança está em um entendimento mútuo que permita a gestão compartilhada do território, a criação de uma empresa petrolífera conjunta e a resolução pragmática de questões ambientais e energéticas."
Para a pesquisadora em relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Stephanie Braun Clemente, o novo encontro foi crucial para reforçar a intenção de manter o relacionamento bilateral por meio do diálogo e da boa convivência.
A presença dos chanceleres dos dois Estados serviu para apresentar propostas de trabalho à comissão conjunta, delineando os próximos passos para a resolução da disputa territorial.
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A pesquisadora ressalta que o encontro indicou uma perspectiva e vontade aparente de manter e avançar o diálogo. "O próximo passo consistirá na realização de uma nova reunião para debater as propostas apresentadas. Ou seja, existe a perspectiva e, aparentemente, a vontade de manter e avançar o diálogo."
Sobre a atuação do Brasil como intermediário, ela destaca a postura do país, que "tem buscado se colocar como um dos principais defensores da solução pacífica de controvérsias regionalmente, focando em manter a região livre de disputas territoriais, realçando a característica da América Latina e do Caribe de ser um espaço pacífico".
Ela destaca que, desde o primeiro encontro em dezembro de 2023, fruto da iniciativa brasileira, as partes têm buscado soluções negociadas, evitando uma "solução bélica", que parecia ser real, segundo ela.

"O Brasil, então, tem se mostrado como a melhor opção, entre os pares regionais, para conduzir a via do diálogo e da paz na região, sendo a disputa por Essequibo um bom exemplo disso."

Quanto à expectativa de diminuição da tensão após a recente reunião em Brasília, a pesquisadora sugere que a tendência é de negociação e diálogo entre os Estados envolvidos.
Apesar de reconhecer que os interesses de ambos os Estados precisam ser atendidos em alguma medida, Clemente aponta para a perspectiva positiva de que as negociações continuem a avançar ao longo do ano, contribuindo para a redução da tensão na região.
"Aparentemente, o desenrolar da problemática em torno do Essequibo tende a ser o da negociação e do diálogo entre os Estados que reivindicam sua posse, quais sejam, a Guiana e a Venezuela."
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