Panorama internacional

Busca de Biden por plenos poderes para lidar com imigração é bastante perigosa, diz analista

Analista político dos EUA afirma à Sputnik que conceder poderes ilimitados a presidentes é sempre repleto de riscos.
Sputnik
O presidente dos EUA, Joe Biden, vem tentando aprovar no Senado americano um projeto bipartidário que concede a ele poderes emergenciais para lidar com a crise de imigração na fronteira do estado do Texas com o México.
O projeto garante a Biden autoridade para fechar a fronteira quando esta estiver sobrecarregada. O presidente americano afirmou que pretende usar este poder assim que for aprovado.
O historiador e analista político dos EUA Dan Lazare afirmou à Sputnik que a medida ambicionada por Biden é "inquestionavelmente perigosa", uma vez que "dar ao presidente poderes emergenciais basicamente ilimitados é sempre repleto de riscos".
"Mesmo que Biden não abuse deles, isso abre um precedente para outros que o farão. Portanto, isso definitivamente inclina a balança a favor do autoritarismo que Trump representa", disse Lazare.
Segundo o analista, as ações de Biden confirmam que o seu antecessor presidencial e rival, Donald Trump, estava correto ao insistir que "são necessárias medidas mais severas" para enfrentar a crise fronteiriça, o que não é um bom presságio para o atual residente da Casa Branca.
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"Admitir que o seu oponente está certo dá aos eleitores mais motivos para votar nele, e não menos", observou o historiador.
Lazare sublinhou que "a crise fronteiriça não pode ser resolvida sem uma nova versão do Muro de Berlim", o que seria um empreendimento bastante desafiador devido à enorme extensão – cerca de 3.141 quilômetros – da fronteira EUA-México.
Outro fator que complica ainda mais a situação é a disparidade econômica entre os Estados Unidos e os seus vizinhos do sul.

"O PIB per capita dos EUA é agora de US$ 76.330 [R$ 375.543], de acordo com os dados mais recentes do Banco Mundial. Enquanto isso, o do México é de US$ 11.496 [R$ 56.560], o da Nicarágua é de US$ 2.255 [R$ 11.094], o do Haiti é de US$ 1.748 [R$ 8.600], enquanto o da Venezuela é de apenas US$ 482 [R$ 2.371]", disse Lazare, afirmando que essa é a razão do aumento da imigração pela fronteira com o México.

Os imigrantes que procuram entrar nos EUA, observou Lazare, estão simplesmente "desesperados por melhorar as suas vidas e as dos seus filhos" e estão dispostos a fazer "o que for preciso" para alcançar esse objetivo.

"Entretanto, a guerra contra as drogas dos EUA agrava o problema ao incentivar a guerra de gangues em grande parte da América Latina, numa escala que faz com que a Chicago de Al Capone pareça uma disputa de escola. Como consequência, países inteiros estão se afogando na violência, sendo o Equador o exemplo mais recente. Isso incentiva ainda mais a imigração, mas a resposta de Washington é intensificar ainda mais a guerra às drogas", acrescentou.

Lazare também observou que os EUA não são o único país no mundo que enfrenta atualmente o problema dos imigrantes, uma vez que as "intermináveis ​​guerras apoiadas pelos EUA no Oriente Médio" resultaram na fuga de um grande número de imigrantes para países da União Europeia.
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