Agricultores insatisfeitos com as políticas do governo francês para o setor anunciaram o início de um cerco a Paris, convocando bloqueios nas principais vias que conduzem à cidade. O Ministério do Interior francês respondeu fortalecendo medidas de segurança e colocando nas ruas 15 mil policiais, veículos blindados e helicópteros.
A Federação Nacional Francesa dos Sindicatos Agrícolas (FNSEA) e o sindicato Jeunes Agriculteurs (Jovens Agricultores, em tradução livre) anunciaram que pretendem organizar um bloqueio total de Paris para impedir o fornecimento de quaisquer bens à capital. A manifestação está prevista para começar na noite de segunda-feira (29) e terá duração mínima de cinco dias.
Os ativistas pretendem bloquear todas as oito rodovias que levam à capital, a poucos quilômetros da cidade. Planejam também organizar um cerco a dois importantes aeroportos parisienses – Roissy-Charles de Gaulle e Orly – bem como ao maior mercado de alimentos da Europa, Rungis, no sul da cidade.
Em resposta, o Ministério do Interior, que já tinha afirmado que não dispersaria os agricultores porque estão expressando legitimamente as suas exigências, construiu toda uma linha de defesa. Mais de 15 mil policiais estão destacados na região da capital francesa, Ile-de-France. A polícia francesa conduziu veículos blindados ao mercado Rungis, que os agricultores manifestantes pretendem bloquear.
Cartaz pendurado em um trator diz "Paris, estamos chegando", enquanto agricultores se preparam para bloquear uma rodovia perto de Ableiges, ao norte de Paris. França, 26 de janeiro de 2024
© AP Photo / Thomas Padilla
Como observou o chefe do ministério, Gérald Darmanin, "a ocupação do mercado de Rungis, dos aeroportos de Paris e outras grandes cidades são linhas vermelhas", por isso a polícia deve garantir que os tratores não entrem nas grandes cidades e "não haja tratores em Paris". Ele lembrou que a polícia usará carros blindados e monitorará o movimento dos tratores a partir de helicópteros.
No entanto, os agricultores estão determinados. Consideraram as medidas propostas pelo primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, insuficientes e desproporcionais à escala dos protestos dos agricultores.
O primeiro-ministro, que está no cargo há apenas duas semanas e meia, fez anúncios há muito aguardados na noite de sexta-feira (27), com o objetivo de acalmar os agricultores e acabar com os protestos.
Attal prometeu que as autoridades se recusariam a aumentar o imposto sobre combustíveis utilizados para fins agrícolas, o que foi um dos motivos dos protestos dos agricultores. Lembrou também que a França se opõe à celebração de um acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e os países do Mercosul, o que, segundo os agricultores, criará condições para uma concorrência desleal.
O primeiro-ministro anunciou ainda a abolição de uma série de procedimentos burocráticos, bem como o reforço do controle sobre o cumprimento da lei Egalim, segundo a qual os distribuidores de produtos são obrigados a fornecer uma remuneração justa aos agricultores.
Já neste domingo (28), Attal reconheceu que "não respondeu totalmente à insatisfação dos agricultores". Ele prometeu anunciar medidas adicionais contra a concorrência desleal, salientando, em particular, que era injusto que os agricultores na França fossem proibidos de utilizar uma série de produtos químicos que são permitidos em países de onde a França importa alimentos. O ministro da Agricultura, Marc Fenot, disse que as novas medidas serão anunciadas em 30 de janeiro.
Na França, os protestos dos agricultores têm ganhado força nas últimas semanas. Eles bloqueiam as principais rodovias, impedem o tráfego com tratores, palheiros e pilhas de esterco.
Os agricultores também sujam prefeituras e edifícios governamentais com esterco e resíduos, exigem o reconhecimento da importância das suas atividades e condenam as políticas governamentais no setor agrícola, que, na opinião deles, tornam o setor não competitivo. Em particular, os agricultores opõem-se à importação de produtos agrícolas, às restrições ao uso de água para irrigação, ao aumento do custo dos combustíveis, à política que pretende encerrar os subsídios ao setor, bem como às medidas restritivas para proteger o ambiente e aos crescentes encargos financeiros sobre a produção.