Ainda que o porta-voz do presidente, Sergei Nikiforov, tenha negado a demissão, o correspondente do The Economist no país, Oliver Carroll, disse que a notícia "parece ser verdadeira".
Os rumores da saída de Zaluzhny do comando das tropas em meio à operação militar especial russa no país, diante da falta de efetividade das operações ucranianas no campo de batalha, são ventilados há semanas no país, mas ganharam força hoje (29).
Porém o Ministério da Defesa ucraniano, além do porta-voz do presidente, classificou como "falsos" os relatos sobre a demissão.
Os problemas se intensificaram após o ataque ao avião com prisioneiros do país que seriam liberados após acordo com a Rússia. Na ocasião, 65 ucranianos morreram após a aeronave ser abatida com mísseis que, segundo investigações de Moscou, foram disparados pelas próprias Forças Armadas da Ucrânia.
Conforme declarou o deputado Aleksei Honcharenko, em troca da destituição foi oferecido a Zaluzhny o cargo de embaixador em um dos países da União Europeia, porém ele recusou.
De acordo com as informações ventiladas previamente por deputados e pela mídia ucraniana, o presidente Zelensky teria cogitado o nome de Kirill Budanov como novo comandante-geral das Forças Armadas da Ucrânia.
Ucrânia: tensões na cúpula preocupavam até aliados
A crescente rixa entre o presidente da Ucrânia e o comandante Valery Zaluzhny estava prejudicando a campanha militar de Kiev, defendia o principal aliado do país, os Estados Unidos.
As tensões vieram a público em novembro do ano passado, quando o general deu uma entrevista à mídia britânica The Economist em que afirmou que a situação no front do conflito estava em um impasse.
A declaração enfureceu Zelensky, que depende da narrativa de que está vencendo o confronto para angariar fundos das nações ocidentais.
Em conversa telefônica com o comandante supremo das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Europa, general Christopher Cavoli, Zaluzhny falou, no início deste mês, sobre a difícil situação no front do conflito com a Rússia.
"Mantive uma conversa telefônica com o comandante supremo das forças conjuntas da OTAN na Europa e das Forças Armadas dos EUA na Europa, general Christopher Cavoli. Falei sobre a situação no front. A situação operacional e estratégica segue difícil, mas está controlada", escreveu Zaluzhny em sua conta no Telegram na época.
Recentemente, Zaluzhny ficou extremamente irritado durante uma discussão sobre a lei de mobilização na Suprema Rada, Parlamento unicameral da Ucrânia.
"Eu preciso de pessoas […]. Com que tropas eu devo lutar? Ou voltem-se para o mundo e peçam pessoas de lá, ou vão lutar vocês mesmos", disse o líder militar.
Veja um resumo sobre a crise no comando da Ucrânia:
Zaluzhny foi nomeado comandante das Forças Armadas da Ucrânia em julho de 2021.
A imagem de Zaluzhny como um general capaz sofreu um golpe durante a segunda metade de 2023, quando a muito alardeada contraofensiva ucraniana terminou em desastre total, com milhares de soldados morrendo em vão.
Após o fracasso da contraofensiva, diversos veículos de mídia começaram a relatar uma aparente ruptura entre o presidente e seu comandante. A situação teria se complicado após Zelensky considerar Zaluzhny um possível rival nas próximas eleições.
Em novembro, um assessor próximo de Zaluzhny foi morto em circunstâncias suspeitas enquanto celebrava seu 39º aniversário.
Em dezembro, dispositivos de escuta inativos foram supostamente descobertos no escritório de Zaluzhny.