A União Europeia (UE) estuda cessar todo o financiamento à Hungria caso o governo do país não concorde em levantar seu veto ao fornecimento de ajuda militar a Kiev pelo bloco, em uma cúpula marcada para ocorrer em 1º de fevereiro, em Bruxelas. A informação foi divulgada pelo jornal Financial Times.
Em dezembro de 2023, a Hungria vetou a ampliação do orçamento da UE para 2024-2027 para acomodar 50 bilhões de euros (cerca de R$ 265 bilhões) em ajuda macrofinanceira à Ucrânia. Na ocasião, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse aos jornalistas que esperava que os líderes da UE aprovassem por unanimidade a ajuda financeira à Ucrânia no início de 2024, com a próxima cúpula extraordinária da UE marcada para 1º de fevereiro.
Segundo um documento acessado pelo Financial Times, Bruxelas delineou uma estratégia para atacar as fraquezas econômicas da Hungria, colocar em risco a sua moeda e causar um colapso na confiança dos investidores, em uma tentativa de prejudicar o emprego e o crescimento econômico do país, de modo que Budapeste reconsiderasse a sua decisão de fornecer fundos da UE à Ucrânia.
"No caso de não haver acordo na [cúpula] de 1º de fevereiro, outros chefes de Estado e de governo declarariam publicamente que, à luz do comportamento não construtivo do primeiro-ministro húngaro [Viktor Orbán], não poderiam imaginar que fundos da UE poderiam ser fornecidos a Budapeste", diz o jornal, citando o documento.
Sem o financiamento, "os mercados financeiros e as empresas europeias e internacionais poderão estar menos interessados em investir na Hungria" e tais medidas "poderiam desencadear rapidamente um novo aumento no custo de financiamento do déficit público e uma desvalorização da moeda", acrescenta o jornal.
Além disso, de acordo com o jornal, o documento do Conselho da UE expôs as vulnerabilidades econômicas da Hungria, incluindo o seu déficit público muito elevado, a inflação, a moeda fraca e os maiores pagamentos da dívida em proporção do PIB na UE. O documento destaca também que o emprego e o crescimento da Hungria dependem, em grande medida, do financiamento estrangeiro, que se baseia em elevados níveis de financiamento da UE.
O ministro húngaro para os Assuntos da UE, Janos Boka, disse ao jornal que Budapeste enviou uma nova proposta a Bruxelas no sábado (27) para chegar a um consenso, dizendo que o governo estava, agora, aberto a usar o orçamento da UE para a ajuda à Ucrânia se fossem adicionadas outras cláusulas que dariam a Budapeste a oportunidade de mudar sua decisão mais tarde.
Boka acrescentou ainda que se a tentativa de chegar a um consenso falhar, Budapeste dará preferência à proposta inicial da Hungria de criar um fundo separado para a Ucrânia fora do orçamento da UE.
Os países ocidentais, incluindo os Estados-membros da UE, têm fornecido ajuda financeira e militar a Kiev desde o início da operação militar da Rússia na Ucrânia, em fevereiro de 2022. A UE forneceu até agora um total de quase 85 bilhões de euros (cerca de R$ 453 bilhões) em apoio humanitário, econômico e militar à Ucrânia e ao seu povo, afirmou a Comissão Europeia no final de dezembro de 2023.