Panorama internacional

Polônia e Coreia do Sul repensam acordo de armas de R$ 110 bilhões

Varsóvia está debatendo se deve prosseguir com a aquisição de equipamentos militares sul-coreanos no valor de US$ 22,5 bilhões (R$ 111 bilhões) por conta dos termos do financiamento. O impasse, aponta um analista à Sputnik, pode ser exatamente o que evitará uma nova escalada de tensões no Leste da Europa e na península Coreana.
Sputnik
Nesta semana, o ministro da Defesa polonês, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, afirmou em uma entrevista de rádio que os termos do financiamento oferecidos pelos sul-coreanos "são inaceitáveis". A Coreia do Sul quer que a Polônia tome empréstimos em cinco bancos do país após o financiamento estatal ter atingido seu limite.
As entregas de aproximadamente US$ 22,5 bilhões (R$ 111 bilhões) de armamentos sul-coreanos encomendados pela Polônia em 2022 e 2023 começaram já no ano passado, mas agora estão dependentes da vontade dos legisladores sul-coreanos de alterar a legislação do país e aumentar o limite de financiamento do Banco de Exportação e Importação estatal da Coreia.
As palavras do ministro da Defesa ecoam os sentimentos do primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, que em janeiro anunciou que havia um grande "problema" com as condições do empréstimo.
"Não sei quem enganou quem, se foi [o ex-ministro da Defesa Mariusz] Blaszczak ou os coreanos. No final, descobriu-se que houve um mal-entendido, mas não quero colocar a culpa em ninguém".
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Blaszczak rejeitou as críticas, acusando Tusk de "guardar centavos" e "preparar os soldados e a opinião pública para o cancelamento dos contratos de armas".
O vice-ministro da Defesa, Pawel Bejda, garantiu que o governo Tusk não está buscando uma "revolução" nas prioridades de Defesa, mas quer garantir que "pelo menos 50% dos gastos com armamento permaneçam nas fábricas polonesas" em meio aos gastos luxuosos propostos com a Coreia do Sul.
A Polônia está no meio do seu maior programa de rearmamento desde a Guerra Fria, com o orçamento de defesa de 2024 atingindo US$ 29,6 bilhões (R$ 146 bilhões), ou 3,1% do PIB do país. A campanha de rearmamento foi iniciada em 2022 pelo agora antigo primeiro-ministro Mateusz Morawiecki e pelo Partido Lei e Justiça.

Coreia do Sul também repensa a venda

"A Coreia do Sul está se comportando de maneira muito cuidadosa em relação aos assuntos da Europa Oriental devido ao fator da operação militar especial na Ucrânia", disse o analista político russo Peter Kolchin à Sputnik.

"Seul recusou-se a fornecer armas à Ucrânia, mas permitiu a compra de munições para as Forças Armadas ucranianas", lembrou.

"No caso do rearmamento da Polônia, a situação também é muito escorregadia devido ao fato das relações russo-polonesas terem deteriorado significativamente nos últimos anos", disse o observador, apontando preocupações tanto em Moscou como em Minsk de que Varsóvia poderia piorar a crise ucraniana, incluindo possivelmente anexar territórios ucranianos ocidentais.
Se isso acontecesse, a Coreia do Sul se tornaria "cúmplice" involuntária, "complicando assim significativamente a relação entre Moscou e Seul". Nesta situação em que Varsóvia coloca em dúvida os acordos, sublinha Kolchin, "Seul tenta reconsiderar a venda de armas, apesar de seu valor multimilionário".

"Atualmente assistimos a um aumento nas tensões da península Coreana e, para a Coreia do Sul, é importante que a cooperação militar entre a Rússia e a República Popular Democrática da Coreia não seja intensificada".

A Rússia possui muitas das mais recentes tecnologias militares sem análogos no mundo, destacou o analista, e se a a RPDC tiver a oportunidade de desenvolver algumas delas, "seria uma ameaça para a Coreia do Sul", destacou Kolchin.

"Portanto, é bem possível que, dado que ambas as partes duvidam da viabilidade do contrato, este possa ser alterado ou, em princípio, rescindido", conclui Kolchin.

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