A tensão no mar Vermelho provocada pelos ataques houthis a navios comerciais também poderá afetar as economias da América Latina, região com comércio crescente com a China e outros países asiáticos.
Segundo um relatório da plataforma Freightos citado pela agência Bloomberg, o preço do frete marítimo para o transporte de mercadorias da Ásia para a Europa aumentou 173%. O mesmo relatório indica que os envios da Ásia para os Estados Unidos também cresceram.
"O que vem acontecendo no mar Vermelho com os ataques houthis aos navios que passam pela área tem claramente um impacto no comércio global, porque esse canal conecta nada menos que o Oriente e o Ocidente", explicou o especialista argentino em negócios internacionais Marcelo Robba.
O analista, pesquisador da Universidade Nacional de Rosário, alertou que a tensão em torno da passagem estratégica reduziu quase pela metade o tráfego no canal de Suez. "Isso resulta em menos fretes e, portanto, menos oferta, ou fretes com rotas mais longas, o que tem impacto no seu preço", salientou.
Segundo o especialista, a situação não afetará apenas produtos específicos, mas terá um impacto ainda mais importante na economia, afetando várias cadeias de abastecimento.
"São cadeias globais que se interrompem; fundamentalmente são insumos que fazem parte de outros produtos finais. A rede produtiva global está muito interligada, então haverá componentes que vão aumentar mesmo que não haja tanto reflexo no produto final", explicou.
Ao mesmo tempo, a situação interfere diretamente no preço do petróleo, que também aumenta em consequência da tensão no Oriente Médio. Segundo o professor, não apenas o preço das commodities sofre alterações, mas, como no caso do petróleo, todo o setor energético também é afetado, "porque grande parte dos navios que transportam petróleo bruto devem passar por aquela zona", disse.
O especialista afirmou, ainda, que neste momento "não há alternativa" para evitar este aumento de preços, que pode atingir as contas dos países latino-americanos. "Para otimizar os custos de transporte não há alternativa ao canal de Suez", que é por isso considerada uma via estratégica. "A alternativa é a normalização do conflito", afirmou.
Por outro lado, Robba considerou que a questão não vai impactar na inflação na Argentina e não será tão decisiva, porque, pelo menos na Argentina, "os problemas de inflação vêm de outro lado". De qualquer forma, o pesquisador ressaltou que "o aumento dos preços dos fretes não ajuda" os governos da região "em um ambiente global de contexto inflacionário", que os governos enfrentam dificuldades para abrandar.
Para o especialista, o impacto deste aumento nos preços dos fretes também será menor do que o ocorrido em 2021 em consequência da escassez de contêineres. "Essa foi uma situação perturbadora", lembrou.