Panorama internacional

Alerta dos EUA sobre ameaça russa à segurança nacional pode ser jogada política, dizem analistas

O congressista Mike Turner, líder do Comitê de Inteligência do Congresso dos Estados Unidos, gerou alvoroço ao alertar sobre a "ameaça à segurança nacional dos EUA associada à Rússia".
Sputnik
O especialista em relações internacionais e pesquisador do Instituto Sul-americano de Política e Estratégia (ISAPE), Késsio Lemos, ressalta que tais declarações devem ser analisadas considerando o cenário político interno dos EUA e o âmbito das relações internacionais.

"Tudo isso deve ser visto com muita cautela, principalmente pelo fato de que 2024 é um ano de eleição nos EUA."

Turner, conhecido por seu forte apoio à Ucrânia, voltou recentemente de sua terceira viagem a Kiev, onde reiterou seu compromisso de fornecer assistência crucial ao presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, afirmando que "a ajuda está a caminho".
Apenas dois dias atrás, ele destacou a urgência de aprovar nova lei no Congresso para fornecer à Ucrânia uma ajuda financeira significativa, avaliada em 60 bilhões de dólares (cerca de R$ 298 bilhões).
Ele acreditava que o presidente da Câmara, Mike Johnson, permitiria votação sobre o assunto. No entanto, Johnson anunciou que não concederá permissão para tal, o que parece ter motivado a preocupação com a segurança nacional.

"Essa eleição pode mudar o rumo da política externa nos EUA e o comprometimento do país com a Ucrânia. O medo da Rússia pode ser instrumentalizado para aumentar o apoio à Ucrânia, mas devemos olhar com cautela, pois pode haver uma tentativa de manipulação interna para justificar uma ampliação desse apoio", disse Lemos à Sputnik Brasil.

O pesquisador destaca que, em um cenário em que as ameaças russas não sejam reais, essa narrativa poderia atingir dois objetivos. "Primeiro, um objetivo eleitoral que seria tentar colocar a opinião pública americana contra o candidato [Donald] Trump. Uma vez que Trump tem se posicionado de uma forma muito mais amigável, ou menos antagonista, em relação à Rússia."

"E também pode ser a função de tentar acelerar ou justificar um envio de mais ajuda financeira, mais ajuda militar à Ucrânia, devido a essa nova emergência nacional, essa crise nacional."

Sobre a possibilidade de isso ser uma cortina de fumaça, o pesquisador expressou sua visão de que poderia ser uma tentativa de combater a fadiga da opinião pública em relação ao conflito na Ucrânia. "Quando essa ameaça chega mais próxima, para dentro da fronteira dos EUA, isso pode favorecer e pode justificar essa ampliação desse esforço americano anti-Rússia."
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A pesquisadora de estudos estratégicos e segurança internacional da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Alana Monteiro entende que o discurso remete a outros momentos em que "a Rússia foi chamada ao foco da atenção por informações que os EUA colocam em evidência".
Segundo ela, isso ocorria com frequência como forma de serem "cortinas de fumaça" e abafar informações conforme os interesses estadunidenses — o que seria uma possibilidade na atual conjuntura.
Conforme as definições de sensibilidade, que definem o potencial de resposta de um país em relação a outro, e de vulnerabilidade, onde se mede a capacidade em afetar a política de um outro território efetivamente, ela entende que cada ator geopolítico "busca seus interesses e utiliza para tal objetivo o seu poder de influência e barganha na sociedade internacional".

A declaração

O deputado americano Mike Turner lançou alerta nesta quarta-feira (14) sobre uma suposta "séria ameaça à segurança nacional". O parlamentar republicano, representante de Ohio, instou o presidente Joe Biden a tornar públicas informações relacionadas ao assunto.
Em uma declaração divulgada nas redes sociais, Turner pediu que o líder americano "torne públicas todas as informações relacionadas a essa ameaça para que o Congresso, a Administração e os nossos aliados possam discutir abertamente as ações necessárias para responder".
Embora Turner não tenha detalhado a natureza específica da ameaça, ela estaria relacionada à Rússia, conforme publicou a CNN.
O Comitê de Inteligência da Câmara disponibilizou informações sobre essa questão para todos os membros do Congresso, conforme comunicado por Turner.
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