Em entrevista à Sputnik Brasil, o pesquisador em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Boris Zabolotsky afirma que o encontro entre as autoridades é um reflexo da cooperação entre Rússia e Brasil.
Segundo ele, "o encontro revela ainda mais a sinergia entre as posições brasileiras e russas em questões internacionais", ressaltando princípios como "a não interferência em assuntos internos, a condenação ao unilateralismo e a busca por um desenvolvimento sustentável".
Pesquisador do programa InteRussia, ele destaca que a visão de desenvolvimento sustentável inclui a busca por uma redistribuição de renda e a diminuição das desigualdades, diferindo da abordagem proposta pela agenda liberal do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ele observou que "as declarações tanto de Lavrov quanto do [chanceler brasileiro] Mauro Vieira, e também do próprio presidente Lula" durante o evento do G20, evidenciam essa congruência de posições.
Segundo Zabolotsky, essa agenda está alinhada com os objetivos do BRICS, que surgiram com a proposta de reforma do sistema de governança global. Ele salientou também que "há uma sinergia bastante importante entre a presidência brasileira no G20, o BRICS e a presidência russa do BRICS".
"As pautas entre esses dois agrupamentos são bastante parecidas [...] o destaque na reforma da governança global é um tema caro para a presidência russa nos BRICS, nesse aspecto, a Rússia defende a inclusão do Brasil no conselho de Segurança da ONU."
O pesquisador destacou que o Brasil presidir o G20 até novembro trará a oportunidade de pautar questões fundamentais para a agenda nacional e internacional, tais como o conflito na Ucrânia.
Vale ressaltar que a Rússia apoia os esforços brasileiros na mediação do conflito — tais como a proposta de criação de um grupo para buscar a paz. No entanto, para o pesquisador, há "outros entraves que impedem que seja avançada determinada agenda em relação à paz ou à mediação".
"É que a paz que o governo [Vladimir] Zelensky, ou as potências ocidentais, exige é uma paz unilateral. Ou seja, é imposição de uma perspectiva para a Ucrânia, que para a Rússia seria de avançar uma agenda construtiva de fato, que vise à paz na Ucrânia."
Além disso, para o pesquisador, a posição do Brasil como líder no G20 permite que outras questões cruciais sejam pautadas, citando a repercussão das declarações de Lula sobre o genocídio em Gaza em comparação com o Holocausto.
Nesse quesito, Zabolotsky entende que a fala de Lula expôs certa hipocrisia ocidental e destacou a necessidade de uma abordagem mais equitativa de conflitos globais.