Muito além das paisagens paradisíacas e do mar azul turquesa, o Caribe é uma das
regiões mais dinâmicas da América Latina que tem no setor turístico uma alavanca econômica.
Apesar do potencial e de também abrigar o país que mais cresceu no mundo em 2023 (
a Guiana, com alta de 38% do produto interno bruto [PIB]), ainda enfrenta sérios desafios no enfrentamento à pobreza e às desigualdades,
além das tensões geopolíticas crescentes.
Em
contraponto aos Estados Unidos, que historicamente tratam a região quase como um "quintal" e
concentram 45% do fluxo comercial com a Caricom, o Brasil busca retomar a importância do Caribe em sua agenda econômica. Com um PIB de
US$ 146 bilhões (R$ 724 bilhões), o bloco de cooperação econômica, política e de programas comuns criado há 50 anos é composto por 15 países-membros e cinco associados — entre eles, Haiti, Bahamas, Trinidad e Tobago.
Entre 2008 e 2012, o Brasil viveu o auge das relações comerciais e econômicas com o grupo e, atualmente, tem o
quinto maior fluxo com a Comunidade do Caribe, diante de um percentual de 2,9%. Além dos EUA, fica atrás de China (8%), Países Baixos (6%) e República Dominicana (3,6%). O gerente de inteligência de mercado da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Igor Celeste, ressaltou à Sputnik Brasil que a entidade identificou quase 1,1 mil novas
oportunidades de negócios de exportação para produtos brasileiros na região.
"Acreditamos que há muito espaço para ampliar nossa participação. Em um cálculo rápido, se chegássemos a 5% do mercado importador da Caricom, estaríamos falando em US$ 1 bilhão [R$4,96 bilhões] em potencial de exportação para o Brasil. Tivemos um auge muito grande entre 2008 e 2012, período em que Santa Lúcia serviu como uma plataforma de distribuição de petróleo para o Caribe. É uma região muito relevante também no eixo de investimentos", resume.
Região que se estende pela costa entre as Américas do Sul e Central, o Caribe é formado por ilhas e países continentes que
até o fim do século passado muitos ainda eram colônias, principalmente britânicas, francesas ou holandesas. Apesar da proximidade de nações como a Guiana dos
estados do Norte do Brasil, a região representa apenas 5% das exportações totais para a Caricom e, segundo o especialista, possui um grande potencial a ser explorado. Entre os principais setores que o país pode fortalecer nas relações comerciais estão
combustíveis, produtos alimentícios, máquinas e equipamentos de transporte, além de artigos manufaturados.
Conforme o
gerente da ApexBrasil, as vendas brasileiras para o bloco se concentram em três grupos: indústria extrativa (óleos brutos de petróleo e minério de ferro), proteína animal e materiais para a indústria de petróleo e gás da região. É esse o setor, inclusive, responsável pelo crescimento de
quase 400% da Guiana entre 2021 e 2023, quando o PIB saltou de US$ 8 bilhões (R$ 39,6 bilhões) para US$ 40 bilhões (R$ 198,2 bilhões). O presidente Lula realiza uma série de agendas bilaterais no país, além de se encontrar com o
homólogo Irfaan Ali.
"Os principais destinos das exportações brasileiras para a Caricom em 2022 foram Guiana, com 23% das vendas, Trinidad e Tobago, com 20% das vendas, Jamaica, com 16%, e Bahamas, com 15%. Juntos, esses mercados representam 77% de tudo o que o Brasil exportou para a Caricom […]. Se conseguíssemos evoluir com acordos comerciais com o bloco, provavelmente ganharíamos uma vantagem competitiva para a penetração nesse mercado. Nós percebemos também, como destaque, o fato de que a gente é o quinto maior fornecedor sem acordos", pontua.
Conhecido pela sigla IED, o
Investimento Estrangeiro Direto ocorre quando recursos financeiros são direcionados por meio de uma pessoa física ou jurídica para outro país em empreendimentos específicos. De acordo com Igor Celeste, o bloco caribenho
concentra US$ 508 bilhões (R$ 2,5 trilhões) do estoque desses recursos. US$ 56 bilhões (R$ 277 bilhões) são direcionados para o Brasil, ou 10% do total.
Conhecida como a doutrina que quis fazer da América Latina o quintal dos Estados Unidos a partir do século 19, uma das consequências da medida foi
tornar o país uma liderança da região. Mas, cada vez mais, há uma tentativa das nações em ampliar o leque de parceiros, principalmente aqueles que estejam mais
ligados ao Sul Global, e é nesse contexto que o Brasil pode
entrar como alternativa para os membros e associados da Caricom. Ainda assim, os norte-americanos
concentram 45% do fluxo comercial com o bloco, em um montante de US$ 29,7 bilhões (R$ 147,2 bilhões).
Com quase 20 milhões de habitantes, a Caricom abriga um dos
países mais pobres da América Latina, o Haiti, que
concentra 61% da população do bloco e apenas 15% do PIB. Esse é mais um símbolo dos intensos desafios que a região enfrenta para combater as desigualdades e a pobreza, uma pauta que, segundo a pesquisadora associada do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getulio Vargas (FGV), também é comum ao Brasil.
"Da mesma forma que o Lula está trazendo a União Africana para discutir no G20, os países da comunidade da Caricom também estariam dentro dessa plataforma da necessidade de você melhorar a desigualdade e reduzir a pobreza […]. É uma pauta comum ao chamado Sul Global, do qual esses países estão presentes", diz. Além disso, a especialista lembra que há raízes culturais parecidas com as brasileiras, por conta do histórico colonizador e escravagista. "É um laço em que se pode identificar maiores simetrias e que pode ser explorado também", finaliza.
Organização criada em 4 de julho de 1973, a Caricom é composta por 15 países-membros (Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago) e cinco associados (Anguilla, Bermudas, Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas e Ilhas Turcas e Caicos).