A Alemanha, através do seu ministro da Defesa, Boris Pistorius, disse que um participante da chamada militar sobre ataque à Ponte da Crimeia, interceptada pela Rússia, se juntou por engano à ligação através de uma linha não segura, e que os sistemas de comunicações alemães não foram comprometidos.
"Nossos sistemas de comunicação não foram comprometidos. A razão pela qual a chamada da Força Aérea pôde, no entanto, ser gravada foi devido a um erro operacional de um indivíduo. [...] Portanto, devemos assumir que o acesso a esta conferência WebEx foi um golpe casual no âmbito de uma abordagem ampla e dispersa", afirmou o ministro em uma conferência de imprensa nesta terça-feira (5), segundo a Reuters.
Pistorius também descartou uma possível participação de um espião russo no vazamento da conversa.
"Posso assegurar-lhes plenamente que isso não aconteceu: não havia nem um espião russo nem qualquer outro estranho nesta conferência WebEx", acrescentou.
Na semana passada, Margarita Simonyan, editora-chefe do grupo Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, publicou a transcrição completa de uma conversa de 19 de fevereiro de 2024 entre altos oficiais das Forças Armadas da Alemanha. Na transcrição, há diálogos sobre plano de ataque à Ponte de Crimeia.
Berlim tem sido pressionada por aliados após o caso vir à tona, segundo a Bloomberg. Autoridades dos países da OTAN ouvidas pela mídia expressaram preocupação com a segurança operacional aparentemente descuidada que resultou no vazamento de uma conversa entre altos oficiais militares alemães.
Um deles chamou as medidas indiferentes de pouco profissionais e disse que tal comportamento seria esperado de pessoas que nunca tiveram instruções de segurança, mas não de oficiais militares.
Outro disse que não ficou surpreso com o lapso da Alemanha, enquanto um terço afirmou que o vazamento provavelmente resultaria em medidas mais rigorosas em todos os setores, mas particularmente em Berlim. Todos pediram para não serem identificados devido à delicadeza do assunto, relata a mídia.
Pistorius disse ontem (4) que, em conversas com colegas, "não detectou nenhum sinal de irritação" por conta do caso, entretanto, sublinhou que "não conheço nenhum aliado nos últimos 20 anos que não tenha tido pelo menos um caso desse tipo para resolver".
Para o pesquisador Tito Lívio Barcellos Pereira, entrevistado pela Sputnik Brasil, o caso fez com que a participação de países ocidentais, por meio da OTAN no conflito entre Rússia e Ucrânia, tenha ficado ainda mais explícita.
"A situação acaba se revelando constrangedora para os membros da aliança, que até então insistiam na narrativa de que a OTAN não faz parte do conflito e de que eles apenas estão enviando auxílio indireto para as forças ucranianas. Esse argumento está cada vez mais posto em xeque, está cada vez mais questionado. Isso dá cada vez mais força e legitimidade para os argumentos russos", afirmou Barcellos Ferreira.
A Rússia, através da representante oficial do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, afirmou que não há coesão nos comentários de agências governamentais alemãs sobre planos de ataque à Ponte da Crimeia, e que a mídia local costura relatos "terrivelmente multidirecionais" para manter a ilusão de democracia na Alemanha.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o conteúdo da conversa dos oficiais alemães ressalta o envolvimento direto do Ocidente no conflito em torno da Ucrânia.