Próxima à Casa Branca desde a administração de George W. Bush, passando pelo governo do ex-presidente democrata Barack Obama e a atual gestão de Joe Biden, a diplomata Victoria Nuland tem sido fundamental nas decisões belicistas de seu país, especialmente com relação à Ucrânia, onde desempenhou um papel ativo no Euromaidan de 2014. O processo foi uma série de revoltas que culminaram na queda do governo de Viktor Yanukovych, além de um conflito de nove anos na região de Donbass, o que levou a Rússia a iniciar a operação militar especial em fevereiro de 2022.
Nuland também foi representante permanente dos Estados Unidos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), porta-voz do Departamento de Estado e subsecretária de Estado para Assuntos Europeus e Eurasiáticos. Nesse último cargo, passou a interferir na política interna ucraniana a ponto de, em fevereiro de 2014, terem sido divulgadas publicamente gravações em que se ouve Nuland conversando com o embaixador dos Estados Unidos, Geoffrey Pyatt.
No diálogo, Nuland avalia quais políticos ucranianos devem permanecer no governo e quais não. Sobre Vitaly Klitschko, boxeador, político e principal líder da oposição naquele momento, comentou que não é ideal tê-lo próximo ao poder. Atualmente, ele é prefeito de Kiev.
Além disso, as gravações revelaram divergências entre interesses dos Estados Unidos e da Europa em relação à Ucrânia em 2014.
Ataques ao Nord Stream
Durante a administração de Donald Trump, Victoria Nuland se manteve afastada por conta das diferenças com o republicano, mas quando o governo Biden começou, retornou ao alto escalão do governo, também no Departamento de Estado, tornando-se a número dois depois de Antony Blinken.
No atual governo norte-americano, Nuland foi incumbida de gerenciar os laços entre Washington e Kiev. A diplomata chegou a comemorar os ataques aos gasodutos russos Nord Stream 1 e 2, um evento que marcou a escalada geopolítica no conflito ucraniano e que Moscou chamou de ato terrorista.
"Acho que o [gasoduto] Nord Stream 2 está morto agora. É um pedaço de metal no fundo do mar. Não acredito que vá ressuscitar", disse em março de 2022.
Além disso, uma investigação do jornalista norte-americano Seymour Hersh sugeriu que a própria Nuland admitiu a possibilidade de os Estados Unidos poderem detonar os gasodutos que atravessavam o fundo do mar Báltico, a partir de instrumentos hidroacústicos submarinos.
Além disso, em janeiro de 2022, pouco antes do conflito ucraniano estourar, Nuland declarou que o Nord Stream 2 "não avançaria" se Moscou lançasse uma operação na Ucrânia.
'Ódio irracional pela Rússia'
Entre os próprios círculos de poder de Washington, há vozes críticas ao trabalho de Victoria Nuland. "Eles são uns idiotas perigosos que podem fazer com que todos nós sejamos mortos", disse o congressista Paul Gosar em fevereiro de 2023, em referência às decisões tomadas por Nuland e Blinken em relação à crise na Ucrânia. "Nuland e Blinken têm um ódio irracional pela Rússia profundamente enraizado", acusou Gosar, que também disse que ambos os políticos "buscam envolver os EUA em outra guerra mundial".
"Ninguém está empurrando mais essa guerra do que Nuland", afirmou também o magnata Elon Musk, em resposta a um relatório da mídia americana sobre a reação da Rússia aos recentes comentários da funcionária em apoio aos ataques contra a Crimeia.
Em fevereiro de 2023, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que o apoio de Nuland aos ataques na Crimeia confirma a íntima participação de Washington no conflito da Ucrânia.
O que Moscou pensa sobre a renúncia de Nuland?
A decisão da subsecretária de Estado para Assuntos Políticos dos Estados Unidos, Victoria Nuland, de renunciar nas próximas semanas está relacionada ao fracasso da retórica antirrussa da administração Biden, apontou a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova.
"Eles não revelarão a causa. Mas é simples: o fracasso do curso antirrusso da administração Biden. A russofobia, promovida por Victoria Nuland como o principal conceito da política externa dos Estados Unidos, está levando os democratas ao fundo", destacou Zakharova.
Embora seja uma diplomata com longa trajetória, a função de Nuland "na realidade tem sido a de ser uma lobista das principais empresas produtoras de armamentos de seu país", como General Dynamics, Northrop Grumman e outras corporações "cujo lucro cresce na mesma medida que o belicismo da política externa dos Estados Unidos e que em parte retorna aos seus mentores nos corredores de Washington", assegura Atilio A. Borón, doutor em ciência política pela Universidade de Harvard em um artigo.
"Os obscuros antecedentes de Nuland raramente vêm à tona na imprensa hegemônica, dentro e fora dos Estados Unidos", observa Borón, que também é acadêmico da Universidade de Buenos Aires.