'Nikola Tesla sonhou, a gente realizou', diz Elon Musk brasileiro sobre carro elétrico (VÍDEO)
Ao que tudo aponta, o futuro dos veículos será elétrico. O caminho é dado como certo nas legislações governamentais ao redor do mundo. No Brasil, o fim do motor de combustão a gasolina é estimulado através de fomentos a soluções mais verdes e o momento parece chave para reviver a indústria nacional, diz Flávio Figueiredo Assis, fundador da Lecar.
SputnikNo mundo, governos estabelecem metas de descarbonização da frota de automóveis e estabelecem leis para o fim da venda de carros com motores a combustão. No Brasil, o Programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover) já garantiu um investimento de R$ 65,3 bilhões por parte de montadoras estrangeiras que buscam ampliar e estabelecer novos parques no Brasil que atendam a critérios de inovação e ambientais.
Esse programa, uma atualização do Rota 2030, aponta
Wanderlei Marinho, coordenador do curso de pós-graduação em veículos híbridos e elétricos do
Instituto Mauá de Tecnologia,
promete aquecer o setor no Brasil.
Longe do Gurgel Itaipu do passado, hoje os carros elétricos vendidos no Brasil são importados, destacou Marinho. "As montadoras tradicionais já trazem esses veículos, e
os chineses tem uma grande penetração no mercado."
Com os investimentos do Mover, abre-se espaço para a produção desses veículos em território brasileiro, o que baratearia os custos, um dos elementos que faz com que esses veículos não tenham ainda uma grande aceitação pelo público.
No entanto, para Flávio Figueiredo Assis, fundador da Lecar, empresa brasileira de veículos elétricos, o momento pode ser aproveitado para retomar uma indústria automobilística nacional.
"É uma indústria que o Brasil não tem há 50 anos. O Brasil tem um monte de montadora, montadora dos outros", disse.
"Tudo o que é feito, tudo o que é gerado, todos os empregos de diretoria, que são mais bem remunerados, todo lucro vai para a matriz. Aqui só se monta carro", sublinhou.
Para Assis, que foi apelidado pela mídia de "Elon Musk brasileiro", o desenvolvimento de uma indústria automotiva própria é benéfico para a sociedade em vários sentidos, desde a criação de novas tecnologias que podem ser "compartilhadas com o mercado"
até o aumento do produto interno bruto (PIB).
"O PIB de automóvel no Japão é superior ao PIB total do Brasil, e o PIB de automóveis da Alemanha é 80% do PIB total do Brasil."
"Então é um segmento que, além de muito valor agregado, gera milhares de empregos com remuneração muito superior de qualquer outra indústria", afirmou.
Nesse sentido, Marinho destaca que as instituições de ensino estão cada vez mais investindo na capacitação de profissionais capazes de atuar em diversas áreas do mundo da eletrificação, desde a "elaboração de motores elétricos e eletrônica de potência" a "sistemas de controle, de armazenamento de energia, de recarregamento de baterias, modelagem e simulação computacional".
Qual o valor de um carro elétrico?
O principal objetivo da Lecar, afirma Assis, é desenvolver um carro 100% nacional por menos de R$ 100 mil, com todos os componentes fabricados no Brasil. À Sputnik Brasil, o empresário adiantou que a montadora conseguiu avançar nos seus planos de nacionalizar a produção, criando uma bateria de fluxo própria e um motor em parceria com a WEG.
O motor, aponta Assis, é um exemplo da parceria que uma indústria nacional é capaz de gerar. Sua empresa, afirma, "tem sido uma intermediária entre empresas nacionais para a troca de informações e tecnologias".
Já a bateria de fluxo, disse o fundador, vai superar as baterias de lítio utilizadas atualmente na indústria. Seu desenvolvimento "abriu um novo leque de aplicações. Ela pode ser usada no agro, por exemplo. Com três kits de baterias de fluxo, pelos cálculos feitos, a gente pode tocar uma carreta de 80 toneladas em uma autonomia infinitamente superior que existe hoje".
Assis diz que já foram definidas algumas aplicações possíveis, mas que os usos são diversos. "Imagina o que é você ter um dispositivo, uma bateria portátil com aplicação geral. Vamos mudar como a gente usa energia tanto no residencial, no comercial, na indústria, na aviação, no náutico e no transporte de carga."
"Não vou falar que a gente fez inovação, a gente vai fazer é revolução. E democratizar o acesso à energia é diminuir, é reduzir diferenças sociais, é reduzir o custo das coisas. O que Nikola Tesla sonhou a gente realizou."
Com previsão para ser apresentada ao público em abril, a bateria integrará já o modelo Lecar 459, o sedã da montadora, que atualmente espera homologação nos órgãos responsáveis. O veículo chegará a 250 quilômetros por hora e terá uma autonomia de 400 quilômetros, afirma a empresa.
A Lecar espera produzir cerca de 300 carros ao mês, o que geraria uma receita estimada de R$ 83 milhões mensais. "A gente já vai faturar, no primeiro ano de produção, R$ 1 bilhão de reais."
Mas é com o seu segundo modelo que a Lecar pretende entrar de vez no coração da população: um hatch que custará até R$ 100 mil. "Vamos entregar um carro brasileiro de R$ 100 mil, mas não é meio carro não. É um hatch de quatro portas, cinco lugares, um carro que o brasileiro está acostumado e merece."
"No Brasil a gente tem a utilização do carro para trabalho, para viagem. Ele é multifunção, então não pode ser um meio carro […]; tem carros importados que são de quatro lugares, mas feitos para pessoas com estatura de 1,50 m, 1,60 m. Vamos fazer um carro com as características que o Brasil demanda."
Os planos da Lecar de entregar um veículo a preço competitivo vão de acordo com as pesquisas citadas por Marinho, que destacou a tendência de queda no preço dos veículos elétricos. "As análises que estão sendo feitas projetam um ponto de equilíbrio a partir de 2025/2026, e os custos de fabricação de um carro elétrico vão se equivaler ao de um carro a combustão", disse. "E a tendência é ficar menor."