"O ex-juiz Sergio Moro, à época à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba, declarou isso, inclusive justificou que estava emulando, importando uma técnica que havia sido mobilizada em uma operação anticorrupção na Itália, a Mani Pulite, ou Mãos Limpas […]. A Lava Jato, então, investiu ao longo de todos os anos em que esteve em operação, investiu em um conjunto de táticas de mobilização da opinião pública. Vazamentos de partes do processo, entrevistas coletivas por parte dos membros da operação, particularmente o Ministério Público", analisa Marona.
Vazamentos e impactos nas investigações
"Foram televisionadas inúmeras das ações investigativas mais incisivas, um conjunto de buscas e apreensões. O Brasil se acostumou, em dado momento, a ver a Polícia Federal chegar cedinho, seis horas da manhã, na casa de diversos agentes políticos, mas também pessoal da imprensa, empresários. Então essa foi uma estratégia que a Lava Jato de fato desenvolveu", sublinha à Sputnik Brasil a analista política.
"O que chama atenção é o fato de que essa estratégia de mobilização da opinião pública, em busca de apoio para a operação, acabou por fomentar uma certa percepção da população brasileira acerca da corrupção como o principal problema do Brasil. Quando a gente compara pesquisas de opinião pública anteriores ao período da Lava Jato, a gente tem alguns temas que classicamente são apontados pela população como muito importantes […]. Aparecem questões ligadas à segurança pública, questões ligadas à saúde, questões ligadas à educação", reforça.
Lava Jato: a mudança de comportamento
"Desde o mensalão, o Supremo já havia feito uma espécie de virada jurisprudencial no campo do direito penal. O Supremo tem um histórico de garantismo até o mensalão, quando, não por acaso, um ministro que havia construído toda a sua trajetória no Ministério Público, o Joaquim Barbosa, vai assumir a relatoria do mensalão, e, a partir dali, o Supremo faz uma virada importante em direção ao punitivismo", contempla.
"O ex-juiz Sergio Moro ganhou muito dinheiro, o ex-promotor Dallagnol ganhou muito dinheiro com palestras, com as aparições públicas, então também [houve a busca] de enriquecimento pessoal […]. O resultado disso foi uma concentração muito grande das ações, enfim, do desenrolar da operação toda em torno do partido do governo, do principal partido do governo, do PT, e aí da sua liderança, o presidente Lula, e dos partidos da base de apoio do governo, e isso a gente vê no recorte que foi feito, nas linhas de investigação que foram assumidas, então é assim que eu penso essa questão", crava.