"É bastante forte, significativo e simbólico que o governo brasileiro atualmente fale com todas as palavras que é um genocídio que está em curso na Palestina e na Faixa de Gaza, mais especificamente. E todo esse apoio que o Brasil tem dado vai muito de acordo com a posição tradicional da política externa brasileira com relação a isso. O único ponto fora da curva foi o último governo, do ex-presidente Bolsonaro", explica, ao lembrar que Vieira prometeu o compromisso do Brasil em avançar com a criação do Estado da Palestina, já aprovado pela Organização das Nações Unidas (ONU) há décadas, mas não reconhecido sequer pela entidade.
Qual o papel de Benjamin Netanyahu?
"Netanyahu não é um político que está muito preocupado com a diplomacia tradicional. Sempre vale lembrar que ele foi o homem que, durante o governo Barack Obama [2009–2017], fez um discurso no Congresso norte-americano falando mal do presidente. Obama se elegeu com grande apoio da comunidade palestina de Chicago, e ganhou o Nobel da Paz por conta de um discurso na Universidade do Cairo falando que um dos objetivos da política externa do governo dele seria resolver a questão Israel-Palestina. Foi um momento de muita tensão entre os governos de Estados Unidos e Israel", exemplifica a especialista.
O que é a polarização política no Brasil?
"A questão de Israel já foi bastante usada pelo ex-presidente Bolsonaro na campanha, tanto que uma das promessas era justamente a transferência da Embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, tal qual fez o ex-presidente [dos EUA] Donald Trump. […] Teve ainda todo o posicionamento do governo brasileiro em organizações internacionais contrário à Palestina, que foi a primeira vez que isso aconteceu. Nem durante a ditadura militar tivemos um posicionamento contrário aos palestinos, do governo brasileiro. Claro que isso vai ser instrumentalizado, mas não um elemento novo", pontua.