As autoridades da UE e dos Estados Unidos bloquearam ativos russos que chegam a 300 bilhões de euros (R$ 1,6 trilhão). Desses, 190 bilhões de euros (R$ 1,035 trilhão) estão depositados no sistema europeu de compensação e liquidação de valores financeiros Euroclear. Em 2023, a instituição ganhou 4,4 bilhões de euros (R$ 23,9 bilhões) ao investir os ativos congelados da Rússia. Apesar de ainda não terem decidido transferir os ativos para a Ucrânia, o bloco europeu já considera aceitável enviar valores para Kiev.
Segundo o Financial Times, isso ocorrerá em julho e fontes relataram o envio de até 3 bilhões de euros (R$ 16,3 bilhões). A expectativa é que os rendimentos dos ativos russos sejam transferidos primeiro para o orçamento da UE e depois redirecionados para a Ucrânia.
"Bruxelas está pressionando para que valores provenientes dos ativos russos bloqueados sejam destinados à Ucrânia neste ano, acelerando o plano de financiamento à medida que o apoio financeiro dos EUA a Kiev diminui", escreve o jornal.
Moscou dará uma resposta proporcional
"O Banco Central pode bloquear ou confiscar 33 bilhões de euros (R$ 179 bilhões) do Euroclear depositados na jurisdição russa. No total, a instituição gerencia ativos no valor de 37 trilhões de euros (R$ 201 trilhões)", disse a professora de economia Meri Valilashvili, do Departamento de Finanças Estatais e Municipais da Universidade Russa de Economia Plekhanov.
Segundo a especialista, é provável que após o confisco muitos países não pertencentes à UE tentem retirar seu dinheiro do Euroclear o mais rápido possível por conta da instabilidade causada. Isso enfraquecerá significativamente a estabilidade e a confiabilidade do euro como moeda de reserva mundial, acrescenta a economista.
'Euroclear pode ficar completamente vazio'
Como observa a Reuters, as consequências para o Euroclear podem ser muito graves, chegando à falência. A agência cita um alto funcionário que calcula que os ativos bloqueados podem gerar de 15 bilhões de euros a 20 bilhões de euros (de R$ 81,7 bilhões a R$ 109 bilhões) em lucros líquidos até 2027, dependendo das taxas de juros.
A agência acrescenta que Moscou também exigirá a apreensão dos fundos do Euroclear em instituições de valores em Hong Kong e Dubai. Isso será seguido por demandas contra bancos ocidentais que perderam dinheiro investido na Rússia, esclarece a Reuters. "Esse é o mecanismo pelo qual o Euroclear pode ficar completamente vazio, basicamente", destacou o alto funcionário.
"A eficácia e a demanda de estruturas como o Euroclear estavam vinculadas a uma confiabilidade de 100%. Se, como parece, é possível 'congelar' ativos de forma tão voluntarista, qual é a confiabilidade? Essa pergunta é feita não apenas pelos russos, mas também por outros usuários do sistema", destaca o diretor-executivo da Economia do Crescimento, Anton Sviridenko.
É possível que a instituição fique sem capital e o Banco Central belga tenha que revogar sua licença. Na opinião dos economistas, isso já representa uma ameaça para a estabilidade financeira da UE. "Isso pode afetar o nível de liquidez global", esclarece Yevgeny Shatov, sócio da empresa de investimentos globais Capital Lab.
A Comissão Europeia também considera que os altos riscos do Euroclear são reais. É evidente que a confiança na empresa, nos mercados europeus e no euro como moeda será permanentemente afetada e, por conta da magnitude das consequências, as autoridades ainda não estão com pressa sobre a decisão. A situação será discutida novamente nos dias 21 e 22 de março na cúpula da UE.
Pela Rússia, foi catalogado como "roubo descarado" o congelamento dos investimentos na UE, pois viola todas as regras e normas do direito internacional. O Banco Central Europeu havia advertido Bruxelas anteriormente de que o uso dos ativos russos congelados para financiar Kiev poderia acarretar riscos à reputação do euro a longo prazo e instado a olhar além desse conflito e buscar outras formas de financiamento.