A Europa enfrenta uma escolha entre reforçar suas capacidades militares em resposta a uma "ameaça russa" ou proteger seu modelo de gastos sociais, diz na quarta-feira (20) o jornal norte-americano The Wall Street Journal (WSJ).
Os líderes da União Europeia estão planejando lidar com as vulnerabilidades de defesa do bloco e expandir seu setor de defesa, mas há decisões dolorosas pela frente. Para aumentar "a segurança do continente", pois tal decisão exigiria que os Estados-membros europeus da OTAN revertessem grandes aumentos nos gastos sociais pós-Guerra Fria.
Os cortes na defesa da Europa desde a Guerra Fria geraram um dividendo de paz de cerca de US$ 2 trilhões (R$ 9,92 trilhões) para o resto da economia. Essas ações deixaram a Europa dependente dos EUA em termos de capacidades militares vitais, como defesa aérea, reabastecimento no ar, engenharia de combate, artilharia e munição, constata a mídia norte-americana.
"A Europa precisaria de pelo menos 20 anos para construir uma força europeia capaz de reverter uma invasão russa na Lituânia e em partes próximas da Polônia sem os EUA, de acordo com uma análise do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um think tank, de 2019", indica o WSJ.
O Instituto Ifo de Pesquisa Econômica da Alemanha, por sua vez, prevê que a maioria dos países europeus pode atingir 2% de gastos militares reduzindo outros gastos do governo em menos de um ponto percentual. Para atingir 3%, vários pontos percentuais dos gastos do governo devem ser alocados para a defesa. Como exemplo, o Reino Unido tem uma meta de 2,5%, e para atingir 3%, precisaria aumentar os gastos militares em mais de US$ 40 bilhões (R$ 198,44 bilhões), o dobro do que gasta com seu sistema judiciário.
Embora alguns países europeus estejam mudando seus gastos militares, com a Polônia planejando gastar 4,2% do PIB em defesa, a Suécia e a Finlândia aderindo à OTAN, e a intensificação de suas operações militares na região do mar Báltico, outros têm tido dificuldades para lidar com o financiamento militar, inclusive por causa de eleições.
Assim, o governo de coalizão da Alemanha ainda não decidiu como aumentar os gastos para 2% ou acima disso quando seu fundo especial de defesa acabar em 2027. Os planejadores militares europeus têm dificuldades para lidar com as operações da OTAN sem os altos níveis de apoio dos EUA.
Os planejadores militares europeus ainda têm dificuldade até mesmo para começar a pensar em como a OTAN poderá operar sem um forte apoio dos EUA, disse Edward Arnold, pesquisador de segurança europeia do Instituto de Serviços Real Unido (RUSI, na sigla em inglês) britânico.
"Nas sessões oficiais de planejamento, não haverá nenhuma mudança", disse ele.
"Mas quando forem tomar café nos intervalos, provavelmente todos dirão: 'Meu Deus, se estivéssemos fazendo isso sem os americanos, como seria?'", resumiu.