Panorama internacional

'Péssimo para a integração sul-americana', diz especialista sobre comportamento de Milei

O comportamento de Javier Milei está dando o que falar. Para especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, o presidente argentino tem tomado decisões não muito positivas tanto para o país quanto para a América Latina como um todo, sobretudo quando se trata da relação com outras nações da região.
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Um dos casos emblemáticos é a recusa de entrada a estudantes brasileiros e a cobrança de taxas "surpresa" aos que estão cursando medicina na terra dos hermanos. Encargos que, diga-se de passagem, antes não eram sequer cobrados ou sinalizados dentro da matrícula ou na renovação dela, conforme reforçam pesquisadores.
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O caso mais recente foi desencadeado com a apreensão e o envio, por Buenos Aires, de uma aeronave venezuelana para os Estados Unidos, em razão das sanções adotadas por Washington. No auge da escalada de tensões entre Venezuela e Argentina, o chanceler venezuelano, Yván Gil, qualificou o governo de Milei de "neonazista", após a Casa Rosada chamar integrantes do governo de Nicolás Maduro de "amigos do terrorismo".
Segundo a analista internacional e doutora em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ana Prestes, a guinada de Milei ao diálogo embativo e diásporo gera consequências negativas não só para a Argentina, mas para toda a América Latina, dificultando a integração do bloco.

"É muito ruim para a Argentina, mas péssimo para a integração sul-americana, para a América Latina e para os povos desses países. São eles que ficam prejudicados com essa postura hostil. Ele [Milei] cria uma situação de dificuldades de respostas diplomáticas", crava Prestes ao ser questionada das consequências.

América Latina forte é uma América Latina integrada

A máxima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de uma "América Latina forte ser uma América Latina integrada", é reverberada pelos analistas ouvidos pela Sputnik Brasil a ponto de convergirem no que tange o reflexo das falas e dos posicionamentos do presidente Javier Milei deteriorarem essa lógica.
Como bem recorda o cientista político Jefferson Nascimento, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e membro do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) e do Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina (NETSAL) do mesmo centro acadêmico, a inserção da América Latina no capitalismo se dá de forma periférica e dependente, ou seja, tem um papel que não é central nas dinâmicas políticas por terem economias subdesenvolvidas e por serem extremamente dependentes dos países centrais do capitalismo, localizados no Norte Global.
Em consequência disso, conforme aponta o especialista, "é difícil que um país sozinho possa romper com a dependência em relação aos países centrais".

"Esses países [fora do eixo do Norte Global] têm que se articular para que tenham seus interesses atendidos em torno da economia mundial", reforça.

A máxima defendida por Nascimento ganha fôlego com o que pontua Prestes. Segundo a internacionalista, "qualquer desequilíbrio que haja em qualquer país da América do Sul vai afetar a força e a potência de todo o subcontinente e do continente latino-americano".
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"O governo Milei adota uma postura de maior hostilidade com os vizinhos. Ele enfraquece a pauta do Mercosul, que é uma pauta importante, principalmente para o Brasil", arremata Prestes.

Brasil no ringue

Na visão do doutor em ciência política e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Elton Gomes, essa dimensão das tensões dentro dos países da região afeta o Brasil invariavelmente.

"Porque nos seus aspectos mais fundamentais cabe ao Brasil manter a estabilidade da região, sendo o grande referencial em termos de instituições poder militar, estabilidade política, tamanho da economia, da população. Todas as características de capacidade do Estado brasileiro são pelo menos cinco vezes maiores do que as dos países vizinhos", sublinha à Sputnik Brasil.

Segundo Elton, essa retórica diplomática adotada de maneira "inflamada" por parte de Buenos Aires e Caracas, juntamente com esse evento no qual a Argentina apreende um avião venezuelano e entrega aos Estados Unidos — país hegemônico que não tem boas relações com a Venezuela —, "traz a possibilidade de você ter uma crise diplomática" que colocaria o Brasil no ringue para apaziguar.

"O Brasil — como principal parceiro comercial da Argentina e como um dos poucos países que ainda reconhece a legitimidade do regime bolivariano — tem o papel importante de procurar ofertar, como […] sempre faz nesses conflitos. O Brasil tem uma diplomacia de comércio que faz com que […] não possa ter nem aliados incondicionais nem inimigos declarados — ofertar os seus bons ofícios diplomáticos para alcançar uma solução pacífica dessas disputas", crava.

Posição afeta atuação do BRICS na região

Ana Prestes ressalta que o comportamento pode afetar a atuação do BRICS+ na região.

"Você começa a ter fenômenos como esses que a gente está vendo, de estudantes brasileiros que estudam na Argentina, com dificuldade de entrar no país, continuar custos, ameaças de mudanças que não estavam previstas, como cobrança de taxas. Acaba prejudicando as relações entre os povos desses dois países, mas também as relações entre os governos e os canais diplomáticos."

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Comportamento vira-lata: é o que está acontecendo com o governo argentino, na opinião do analista internacional Jefferson Nascimento. Ele pontua que tais posições vão contra o avanço da América Latina e fortalecem a maneira de governar dos Estados Unidos.

"Logo após assumir o governo, ele [Milei] recusa o convite de poder aderir ao BRICS e vem pelas próprias viagens internacionais que vem fazendo para Israel e os Estados Unidos —, aderindo a posições de interesse dos EUA até no que diz respeito ao conflito de Israel e Hamas", explica.

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