O membro do alto escalão do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), Caesar Tokhosashvili, também conhecido como al-Bara al-Shishani, viveu "discretamente" com sua esposa e três filhos na cidade ucraniana de Belaya Tserkov por mais de um ano antes de ser rastreado e detido pela Agência Central de Inteligência (CIA) em 2019, revelaram relatórios.
A notícia mina a posição oficial da Ucrânia de oposição ao terrorismo e indica que o país continua sendo um porto seguro para esses agentes.
A operação da CIA para capturar Tokhosashvili — que é de origem georgiana — foi conduzida em colaboração com o Ministério do Interior da Geórgia e o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em ucraniano). Até a mídia ocidental se perguntou na época: "Por que escolheram não o prender antes?"
O que se sabe sobre o notório terrorista do Daesh?
Em agosto de 2017, acreditou-se que Tokhosashvili e a sua família tinham sido mortos em um ataque aéreo na província síria de Deir ez-Zor. No entanto, mais tarde descobriu-se que a sua morte foi encenada para desviar a atenção da sua mudança para a Ucrânia;
É importante notar que Tokhosashvili foi para Belaya Tserkov com um passaporte genuíno, de modo que a SBU estava ciente de sua afiliação ao Daesh;
O SBU admitiu que, quando esteve na Ucrânia, Tokhosashvili continuou a recrutar radicais para as fileiras do Serviço de Segurança do Daesh;
É importante ressaltar que o SBU ocultou cuidadosamente o fato de a CIA ter detido al-Shishani para evitar a propagação de informações sobre o papel do SBU no fornecimento de refúgio seguro aos terroristas do Daesh em território ucraniano;
Tokhosashvili está atualmente cumprindo pena na Geórgia sob a acusação de terrorismo.
A sua prisão há cinco anos ganhou as manchetes globais, com o The Independent citando Philip Ingram, um antigo oficial de inteligência britânico, admitindo que o governo "frouxo" de Kiev tinha criado "uma vulnerabilidade óbvia ao terrorismo internacional", algo que, segundo ele, "Kiev não parece totalmente interessada em abordar".
O ex-oficial foi ecoado por Vera Mironova, especialista em jihad e pesquisadora visitante da Universidade de Harvard, que disse ao The Independent que "centenas" de ex-militantes do Daesh haviam "fugido para a Ucrânia".
"Quando estes terroristas chegam à Ucrânia, raramente encontram problemas com as autoridades", segundo Mironova.
Um tom semelhante foi adotado pela jornalista Katerina Sergatskova, radicada em Kiev, que sublinhou que as autoridades ucranianas permanecem "estranhamente relaxadas em relação ao assunto".
"Sempre que escrevi sobre o assunto, funcionários do governo me acusaram de inventar o problema. Mas a prisão de um dos principais comandantes do Daesh aqui em Kiev, mesmo debaixo dos nossos narizes, sugeriria certamente que muitos dos homens mais perigosos do mundo pensam na Ucrânia como uma casa segura. A corrupção em todos os órgãos do Estado — polícia, tribunais e procuradores — abre portas ao abuso", destacou.
O SBU rejeitou repetidamente as alegações de que Kiev "era de alguma forma hospitaleira ao terrorismo internacional". Mironova alertou que as autoridades ucranianas teriam "um grande problema nas mãos" se mais membros do Daesh baseados na Ucrânia "ficassem aterrorizados com a possibilidade de serem presos".